Da ética na política (parte II)
Depois da notável lição de Marques Mendes na véspera, Paulo Rangel foi ontem à Universidade de Verão do PSD contrariá-lo no essencial. Não encontrou melhor autor para recomendar aos jovens sociais-democratas que fazem o seu tirocínio político em Castelo de Vide do que Maquiavel. "A política é autónoma da ética e a ética é autónoma da política. E essa é a grande lição d' O Príncipe", sublinhou o novo eurodeputado social-democrata. Contrariando assim uma das pedras basilares do pensamento do fundador do PSD, Francisco Sá Carneiro: "A política sem ética é uma vergonha."
Sá Carneiro era certamente leitor de Maquiavel. Mas sou incapaz de imaginá-lo a recomendar a um grupo de jovens estreantes nas lides partidárias o autor renascentista como caução intelectual para a separação entre ética e política. Sabendo-se que este é um dos problemas de fundo da vida política portuguesa, mais me custa ainda perceber as vias sinuosas subjacentes ao discurso de Paulo Rangel. Uma tremenda desilusão.
Imagem: fotograma de Júlio César, de Joseph L. Mankiewicz (1953), com Marlon Brando