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Delito de Opinião

O que parece nem sempre é

Pedro Correia, 25.08.09

A autoconfiança é um atributo fundamental num político. John Kenneth Galbraith notou certa vez que nunca tinha conhecido um homem tão confiante em si próprio como John Fitzgerald Kennedy – o que serve para explicar grande parte do sucesso do 35º presidente norte-americano, ainda hoje uma das personalidades mais aclamadas do século XX. No fascinante livro The Best and the Brightest, dedicado aos bastidores da presidência Kennedy, David Halberstam mostra-nos outra característica do jovem presidente que acabaria por ser assassinado em Dallas: ele era exactamente como parecia. Ao contrário de outros políticos, que fazem tudo para parecer o que não são, Kennedy tinha uma autenticidade que empolgava os seus adeptos e desarmava os seus adversários.

Há um episódio da disputadíssima campanha eleitoral de 1960 que ilustra bem tudo isto: a certa altura alguém pergunta a Kennedy se não se sente exausto. A resposta, negativa, veio num sorriso. Mas o então senador do Massachusetts que se candidatava à Casa Branca pelo Partido Democrata acrescentou ter a certeza de que o seu antagonista republicano, Richard Nixon, se encontrava à beira da exaustão (o que mais tarde se provaria ser verdade). E como é que Kennedy sabia isto? O futuro presidente esclareceu o seu interlocutor: “Sei bem quem sou e não tenho de me preocupar em adaptar-me ou transformar-me. Tudo quanto tenho que fazer, em cada etapa da campanha, é mostrar-me tal como sou. Mas Nixon não sabe bem quem é. Portanto, cada vez que faz um discurso tem de decidir que face dele próprio irá mostrar, o que deve ser extenuante.”

Este episódio ajuda a demonstrar a importância da autenticidade na política. Um dirigente postiço, plastificado, sempre em pose, acaba cedo ou tarde por ser desmascarado. Perde grande parte da sua capacidade de atracção quando lhe desvendam o verdadeiro rosto. E termina esgotado por ter consumido energias em excesso ao tentar parecer o que não é.

4 comentários

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    Pedro Correia 25.08.2009

    Pensei que a mente te fugisse para outro líder político que não esse, Teresa.
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    Teresa Ribeiro 25.08.2009

    Pedro: Goste-se ou não de Soares não se pode negar que sempre se movimentou na política como peixinho na água. Ou seja, com muito à vontade, muito prazer, sem qualquer esforço. E sempre achei que a sua popularidade se explicava essencialmente por essa naturalidade e autenticidade que espelhava nos seus mais pequenos gestos.
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    Pedro Correia 26.08.2009

    Penso isso, mas de Manuel Alegre.
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