Portugal vicioso
O Portugal político é feito à imagem do Portugal televisivo: os habitués convidam-se mutuamente e andam todos a mostrar-se num círculo fechado imparável; o resto é a paisagem do costume, de uma pobreza desoladora em que mais ninguém conta.
Este desabafo refere-se a um monte de casos que seria maçador anotar. Basta o exemplo do dia, apenas porque vem mesmo a calhar. Marcelo Rebelo de Sousa escreve na imprensa e tem um programa semanal na televisão pública. Interrompeu para férias há uns dias e estará de volta daqui a outros tantos. Entretanto, é o entrevistado com direito a chamada de capa num jornal de hoje, como se entre os que querem-saber-o-que-ele-diz-sobre-o-que-quer-que-seja não estivessem já fartíssimos de o saber e condenados a confirmá-lo nos próximos onze meses.
Isto não são saudades. Isto é doença. É um vício instalado. Vivemos num país de rotundas. Portugal é um círculo vicioso. Ou um circo, onde o espectáculo também é rotundo e os micos se repetem à exaustão.