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Delito de Opinião

Muhammad Yunus

Carlos Barbosa de Oliveira, 12.08.09

 

 

 

Muhammad Yunus vai receber, hoje, a mais alta condecoração civil outorgada pelos Estados Unidos: a medalha presidencial pela Liberdade. A altíssima distinção  com que  Barack Obama  vai distinguir Muhammad Yunus é o reconhecimento da obra de um homem que fez mais pelo combate à pobreza do que qualquer político mundial.
Como salientou Obama,  Muhamad Yunus  foi um agente de mudança, que  viu um mundo imperfeito e agiu no sentido da sua melhoria, superando grandes obstáculos pelo caminho.
Ao criar o Banco Grameen e o microcrédito, este economista banqueiro tirou da miséria milhares de cidadãos condenados à pobreza e à fome. Deu à sua vida um outro rumo, onde a palavra empreendedorismo cintila como uma mensagem de esperança.
O microcrédito foi adoptado em muitos países do mundo, transportando consigo essa mensagem de esperança para muitos que já a tinham perdido, na voragem deste mundo de liberalismo selvagem. Recebeu, por isso, o Prémio Nobel da Paz.
Há uns meses, tive a oportunidade de o entrevistar. Fiquei impressionado com a sua simplicidade. Em nenhum momento vislumbrei no seu rosto uma réstea de vaidade. Apenas a reacção natural de quem tem a sensação de que o mundo poderia ser bem melhor se a volúpia e ambição dos homens não o tornassem tão injusto. Se não houvesse tanta promiscuidade entre política e finança. Da rasca, onde militam os Jardim, os Rendeiros, os Costas e “tutti quanti”. Não da alta, onde ainda é possível encontrar gente digna.
Um exemplo para um mundo onde os banqueiros são olhados como seres superiores, pelo simples facto de  praticarem a usura e olharem para os mais desfavorecidos como “indignos de aceder ao crédito”.
Um exemplo para os políticos que transportam ao colo usurpadores, vigaristas de chinela que gastam numa hora de charutadas o vencimento de um trabalhador médio, que investem o dinheiro dos outros com a displicência de quem joga na roleta e nos atiraram para esta situação miserável, culpando agora os políticos de serem os responsáveis pela bancarrota.
Não sou lírico ao ponto de acreditar que os problemas do mundo se resolveriam com o microcrédito, mas não tenho dúvida que seria melhor se os bancos funcionassem a favor da sociedade e não apenas para proveito de meia dúzia de gananciosos.
Por um dia, deixem-me acreditar que Obama está a dar ao mundo um sinal de que é imperiosa a mudança do sistema financeiro mundial. Por um dia, apenas, quero acreditar nisso, porque amanhã as notícias que vão chegar da América Latina me vão despertar do sonho e mostrar que os desígnios de Obama são bem diferentes daqueles que esta homenagem a Muhammad Yunus pretende transmitir.
Mas amanhã é outro dia…

 

( Também nas Crónicas do Rochedo)

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