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Delito de Opinião

Cenários

Carlos Barbosa de Oliveira, 06.08.09

 

AS ALIANÇAS (IM)POSSÍVEIS

 

A  única (quase) certeza, em relação aos resultados de 27 de Setembro, é que nenhum dos partidos terá maioria absoluta. Provavelmente, os eleitores também não  irão votar no sentido de permitir uma reedição da aliança PSD/PP, lembrados que estarão da forma como acabou esse governo liderado pelo trânsfuga  Durão Barroso.
Assim sendo, o mais provável é que acordemos, no dia 28 de Setembro, num país ingovernável. Mas será mesmo assim? Talvez não.
Suponhamos que o PS ganha as eleições sem maioria absoluta, mas que  a soma dos seus deputados com  qualquer dos outros partidos  viabiliza a formação de um governo.
O PCP permanecerá, obviamente, na sua postura  orgulhosamente só, esgrimindo como bandeira  a força mobilizadora das classes trabalhadoras.
É sabido que o BE rejeita qualquer acordo  com o PS que viole os seus princípios programáticos. Compreende-se. Um partido de esquerda não pode apoiar um partido que aprovou um Código do Trabalho fortemente lesivo dos trabalhadores, retirando-lhes  direitos e regalias, e, acima de tudo, não cumpre as suas promessas. 
Como não é previsível que Sócrates se disponha a virar, um centímetro que seja, à esquerda, o PS só poderá  governar com apoios à sua direita (CDS/PP) ou com o partido gémeo (PSD).  Mas estará  a mana dizigótica  disposta a viabilizar um governo com o gémeo desavindo, mesmo que isso não implique um novo Bloco Central, mas apenas um acordo de incidência parlamentar? MFL  já foi clara. Nunca  fará qualquer entendimento com Sócrates.
Resta então o CDS/PP, um partido ambivalente, que não enjeitará, à partida, uma aliança com nenhum dos manos desavindos.
O outro cenário assenta numa maioria relativa do PSD, com as mesmas condicionantes.
Se os resultados eleitorais permitirem uma aliança de governo com o PP, estará encontrada a solução.  Parece bom, mas não é.  Sócrates vai lembrar-se que afinal era socialista e será capaz de se aliar, na rua, com os partidos à esquerda, que sempre repele quando é governo. (Isto, partindo do princípio que Sócrates se manterá à tona e não será substituído por alguém que devolva ao PS o seu lugar porque, se assim for, as ruas ficarão ainda mais animadas). O clima no país tornar-se-á insustentável. Cavaco ficará com a reeleição comprometida em 2011 e Manuel Alegre terá um passeio triunfal até Belém.  Excepto, claro, se Sócrates não se lembrar de  repetir a façanha de 2006 e apresentar um candidato alternativo, ou  MFL - com o apoio de Cavaco e Jardim - realizar o seu sonho de suspender a democracia durante uns tempos. Com Manuel Alegre em Belém, MFL não se aguentará mais de seis meses. A sua capacidade de diálogo ou abertura é nula (como o prova a constituição das listas de deputados), não suportará o ruído nas ruas, nem  um veto presidencial. Assim, lá teremos novas eleições no Outono de 2011.
Mas  estará  MFL impedida de formar governo - uma vez que não conseguirá apoios à esquerda?  Talvez não. É bom lembrar que, ao contrário de MFL, Sócrates nunca disse que não viabilizaria um governo do PSD. Também não disse que o faria, é verdade mas, como sempre, não abre o jogo.
Creio ter chegado a altura de Sócrates  dizer aos eleitores, sem evasivas, qual será a posição do PS perante este cenário. Todos teremos a lucrar com essa clarificação. Se Sócrates abrir a porta a um entendimento parlamentar com o PSD, a esquerda do PS  irá reforçar a votação do BE. Se recusar essa hipótese, estancará a sangria e criará condições para uma eventual vitória  que lhe permita formar governo com o PP.
Em qualquer destes cenários, duas coisas me parecem  óbvias. No dia 28 de Setembro  o país acordará  preparado para ser governado mais à direita, embora a soma aritmética dos deputados possa indicar uma maioria de esquerda. Como é isso possível? Pela simples razão de se continuar a insistir na tecla de que o actual PS é um partido de esquerda. Não é.
A outra conclusão – não tão óbvia - é que o mais pequeno partido do espectro parlamentar poderá ser decisivo na viabilização de um governo mais ou menos estável. Resta saber com quem prefere Paulo Portas aliar-se.
Tenho a sensação que o PP prefere uma aliança com o PS. Dá-lhe garantias de maior estabilidade (o PSD não se aliará ao PCP e ao BE para  derrubar o governo), dar-lhe-á mais protagonismo e poderá exercer mais influência nas decisões governativas (MFL manterá sempre um controlo mais apertado sobre Portas do que Sócrates).
Pensando apenas na estabilidade governativa, creio que será, apesar de tudo, menos penalizadora para o país uma aliança PS/ PP, do que PSD/PP.

Como dirão Louçã ou Jerónimo de Sousa, entre os dois venha o Diabo e escolha.

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