Quatro notas sobre o programa (ou falta dele) do PSD
O nosso colega José Gomes André afirma no Jamais que "para os socialistas e todos aqueles que não se cansam de bater na tecla "o PSD está atrasado a mostrar o seu programa" só tenho duas frases a dizer. Data em que o PS apresentou o programa para eleições legislativas de 2005: 21 de Janeiro. Data da eleição: 20 de Fevereiro." Ora, este argumento usado contra os socialistas ainda é mais ou menos compreensível, sobretudo para aqueles que na altura não manifestaram qualquer reacção ao atraso do programa socialista. Mas, atendendo ao que foi o governo do partido socialista e ao que ficou por cumprir em relação ao programa apresentado, o argumento usado pelo José é óptimo para justificar o porquê que o programa do PSD já devia ser público neste momento. A transparência, dizer claramente ao que se vem, e o escrutínio, a análise se as propostas concretas são exequíveis, devem ser norma numa democracia e para a concretização destas duas vertentes o tempo entre a apresentação do programa e o dia das eleições conta. O candidato Obama, a mais de um ano de distância das eleições, já afirmava claramente o que pretendia do sistema fiscal americano e prometia um sistema nacional de saúde. Na direita portuguesa não faltou quem afirmasse que o homem não tinha ideias, com Ferreira Leite são menos exigentes. Para mais, se o PS tivesse tido outro timing em 2005, talvez a proposta da recuperação dos 150 mil empregos tivesse sido desmontada.
Também no Jamais, Pedro Picoito afirma que "Nas europeias, segundo os preocupados, Manuela Ferreira Leite não apresentou o cabeça de lista a tempo. Quando o apresentou, não era mobilizador. E o resultado seria desastroso. Agora, repete-se a angústia com o programa. Que já cá devia estar, que não vai haver tempo para o discutir, que o PS parte em vantagem. E brande-se o espectro da derrota." A táctica de Ferreira Leite pode ser a melhor para obter uma vitória em Setembro, mas é a melhor para a credibilização da democracia portuguesa? É a melhor para o pós-Setembro? Dúvido. Sem um mandato claro para mudar alguma coisa, nada mudará.
Continuando no Jamais, João Gonçalves diz que "Ferreira Leite tem todo o interesse em falar para o país - coisa diferente de o maçar com calhamaços demagógicos que ninguém lê e dos quais só se respiga o picaresco - quando o país estiver para aí virado. E só estará, pela fatalidade do calendário eleitoral, em Setembro." Bem sei que a blogosfera não é o país, mas não percebo então tanta insistência do Jamais na produção de posts nesta altura do ano. Diz ainda que "Para mais, depois do dia 27 tudo indica que ninguém vai poder aplicar o "seu" programa. Para quê perder tempo?" De facto, nunca percebi a insistência de partidos como o CDS, o BE ou o PCP em apresentarem um programa. Em todas as eleições, tudo indica que não serão capazes de aplicar o "seu" programa. Podemos estar a entrar numa nova fase da política nacional, a dos partidos sem programa, os quais merecem a confiança dos eleitores porque sim.
Para terminar, concordo com o que o nosso Pedro Correia diz no Corta-Fitas, "a oposição à construção do TGV e à terceira ligação rodoviária por auto-estrada Lisboa-Porto" para programa de governo é muito pobre. Mas mantenho o que disse aqui. Se há ponto importante a garantir nas próximas eleições é que o governo eleito não dará seguimento a qualquer política de grandes obras públicas. Entre um PS pró-obras públicas e um PS anti-obras públicas (e por obras públicas, refiro-me às grandes obras públicas que endividam o país por anos), a vitória do segundo sobre o primeiro é um imperativo nacional. O que já não estou tão certo é que exista um PS anti-obras públicas em Portugal.