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Delito de Opinião

Autárquicas (8)

Pedro Correia, 28.07.09

  

 

UMA MONUMENTAL ESTOPADA

 

Sintonizei a SIC para ver o debate entre António Costa e Pedro Santana Lopes, anunciado para as 21 horas. Às 20.52, no entanto, o debate já decorria: a SIC, que garantira o "exclusivo", chegou tarde à sua própria iniciativa, optando pela publicidade enquanto Santana começava a falar, em resposta a Clara de Sousa. Saltei para a SIC Notícias, evitando assim novas faltas de consideração do canal generalista pelos espectadores.

Segue um registo do que fui escutando - ou talvez não. Em dez andamentos.

 

20.52 / 20.57

"Debate capital", proclama a SIC com manifesto exagero. Os dois candidatos à Câmara Municipal de Lisboa (porquê só estes?) trocam uns galhardetes inócuos. Fala-se do passivo da câmara, das dívidas da câmara, de contabilidade.

 

20.57 / 21.02

Fala-se do passivo da câmara, das dívidas da câmara, de contabilidade. De obra, presente ou futura, nada.

 

21.02 / 21.07

Ainda o mesmo tema: dívidas, empréstimos, contas antigas, balancetes. Parece mais conversa de mercearia do que um debate político.

 

21.07 / 21.12

Às 21.10, Clara de Sousa conclui o óbvio: "Não chegam a acordo, temos que avançar." Mesmo assim, prossegue o desfiar de argumentos sobre contabilidade e facturas. Alguém ainda acompanhará o "debate capital"? Eu já tenho alguma dificuldade.

 

21.12 / 21.17

Só às 21.13 termina a enfastiante disputa sobre quem paga mais e melhor aos fornecedores do município. Costa e Lopes, quase tão sonolentos como eu, resvalam para outros temas. Mas ainda com as contas a reboque. "O seu candidato a vereador Sá Fernandes embargou o túnel. Sabe o prejuízo que isso fez à cidade?", questiona Santana. Por momentos, penso que alguém se enganou de ano - ou eu ou eles. Estaremos ainda em 2007?

 

21.17 / 21.22

"Sá Fernandes fez muito mal a Lisboa", insiste Santana.

"Passa a vida a queixar-se dos outros", reclama Costa.

Começo a interrogar-me muito a sério por que motivo a SIC decidiu organizar um "debate capital" excluindo candidatos de forças com implantação eleitoral e sociológica em Lisboa como o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda.

 

21.22 / 21.27

Fala-se em voo rasante de questões que interessam realmente aos munícipes: aeroporto, os contentores de Alcântara, a terceira travessia rodoviária de Lisboa, a reabilitação urbana. Santana está verdadeiramente obcecado com o Zé que "fazia falta" aos socialistas: "Sá Fernandes planta girassóis e quer apanhar berbigão no Cais do Sodré."

Às 21.26, Clara de Sousa arrisca falar do trânsito. Costa proclama: "O grande desafio deste século são as alterações climáticas." Afundo-me no sofá com um largo bocejo.

 

21.27 / 21.32

Aprendi alguma coisa com António Costa: "Diariamente entram em Lisboa 400 mil carros." Deduzo, portanto, que será contra a nova ponte rodoviária já prometida pelo Governo. Mas ele nada diz sobre a matéria. Clara de Sousa nada lhe pergunta.

 

21.32 / 21.37

Quarenta minutos após ter começado o debate, a moderadora pede enfim desculpa aos telespectadores pelo facto de a SIC ter falhado o arranque da emissão, apenas disponível aos clientes da televisão por cabo.

 

21.37 / 21.43

O debate arrastou-se ainda por mais seis minutos, mas deixei de prestar atenção ao que Lopes e Costa diziam.

Conclusão: uma monumental estopada.

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