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Delito de Opinião

Sem remédio

Teresa Ribeiro, 21.07.09

Acredito que José Sócrates, ao avançar com aquela fúria reformista que todos lhe reconheceram em início de mandato, estava a ser honesto nos seus propósitos. Egos insuflados como o dele querem mais. Querem fazer a diferença, mostrar obra, alcançar a glória.

Mas nem a sua determinação chegou para enfrentar as "forças de bloqueio". As mesmas que o seu mentor, António Guterres, anos antes aspirou a contornar pelo diálogo. O método antes-quebrar-que-torcer cedo se veio a revelar, também ele, inútil. Restou pois, à governação, a gestão dos interesses instalados. Ou seja, mais do mesmo.

Para sustentar as promessas de redenção vingou um marketing musculado, sem dúvida o melhor que este governo teve para oferecer, mas cujo efeito naturalmente se foi perdendo à medida que o tempo revelava que tudo não passava disso mesmo: de marketing.

O famoso estado de graça de que Sócrates usufruiu como nenhum outro primeiro-ministro teve a ver com as expectativas que a sua pose e o seu discurso vigoroso criaram nos portugueses. Cansados do chove-não-molha em que se tornou esta democracia, desiludidos por anos e anos de inépcia, os eleitores acreditaram que aquele perfil, o de um homem frio, cerebral e feroz na sua ambição, o perfil de alguém que provavelmente não desejariam para amigo, seria o mais indicado para enfrentar os lobbies que têm mantido presos pelos tintins os partidos de poder. Mas nem ele, nem o homem que parecia, a troco de glória, não se importar de vender a própria mãe, conseguiu quebrar o enguiço.

Agora maioria para quê? Para quem? Se houve algo que Sócrates conseguiu foi provar até que ponto o poder político é frágil. Até que ponto o poder político é refém do seu próprio poder. E isto, pelos vistos, não tem solução.

Derrotista? Ah pois, estou em contraciclo. Em período pré-eleitoral deve debater-se o papel dos partidos no futuro próximo e etc. Com convicção, garra, paixão até. Porque assim é que tem graça, é este o jogo.

Em período pré-eleitoral escreve-se sobre a dança das cadeiras, como no defeso do futebol se escreve sobre as transferências e compras dos jogadores. Melhor esquecer estas reflexões e começar a pensar em que partido vou votar na rentrée. Sacudir o tédio e começar indolentemente a escolher, sem apurar exactamente para quê. Apenas porque sim.

 

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