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Delito de Opinião

Ainda há heróis

Pedro Correia, 08.07.09

  

 

No coração da remota China muçulmana, pelo menos 156 pessoas foram abatidas por balas governamentais em nome da sacrossanta 'unidade' do Estado e da estabilidade 'socialista'. Que crime cometeram? Procurarem manter a identidade cultural, falando a sua língua e professando a sua religião no país mais populoso do mundo, onde a norma é esmagar toda a diferença. Acontece hoje no Xinjiang, acontece há meio século no Tibete, aconteceu em 1989 na própria sede suprema do Império do Meio. Sei bem do que falo. Há vinte anos, vivi em Macau um dos períodos mais tristes de que me lembro, quando vi esmagar a Primavera com que milhões de chineses haviam sonhado – a Primavera política, após quatro décadas de ditadura, afogada em sangue naquela trágica madrugada em Tiananmen. Recordo as expressões festivas nos rostos de muitos chineses semanas antes, dias antes, horas antes, quando toda a esperança parecia possível. Recordo as figuras dos principais dirigentes estudantis, imagens que galvanizaram toda uma geração – jovens como Wang Dan e Chai Ling. Recordo o impressionante instantâneo daquele homem anónimo, de braços nus, enfrentando uma fileira de tanques, imortalizado pelo clique da máquina fotográfica de Stuart Franklin. Símbolo máximo da dignidade humana perante a força bruta - há duas décadas em Pequim, hoje no Xinjiang que teima em ser diferente.

Quando ouço dizer à minha volta que já não existem heróis, lembro-me sempre daquele homem sem medo. Que outro nome haveremos de dar-lhe senão esse – o de herói?

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