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Delito de Opinião

A segunda vista

Ana Vidal, 25.06.09

 

Estive durante muitos anos ligada à publicidade (ainda estou, pontualmente) e a comunicação, em termos mais genéricos, mantém-se o meu métier. Por gosto e hábito instalado, sigo a publicidade que se vai fazendo, entusiasmo-me ainda com uma campanha "bem esgalhada" e fico perplexa, ou até indignada, com as aberrações criativas que às vezes vejo por aí.

 

A última campanha do Millennium BCP é um desses casos. Não chegando a deixar-me indignada, deixa-me de boca aberta pela total falta de senso e de sentido de oportunidade. Como é possível que um banco, perante um quadro de total - e justificada! - perda de confiança por parte dos cidadãos seus clientes, escolhe como mensagem um slogan que não remeta de forma inapelável para uma completa transparência de intenções, que não se destine a recuperar a imagem perdida de solidez e fiabilidade? Em pleno vórtice de notícias negras sobre banqueiros presos, arguidos ou investigados, depósitos e poupanças desaparecidos para parte incerta, malabarismos através de off-shores e uma crise de valores que varre todas as competências e reverências que os portugueses tinham por intocáveis, a frase "À primeira vista, é só um banco" é, no mínimo, desastrada. Apetece logo perguntar: "E à segunda vista, o que é? Uma corja de malfeitores? Uma confraria secreta, que usa e abusa das nossas poupanças? Quais as surpresas que nos esperam numa análise mais detalhada, para além da fachada bonitinha e simpática?

 

A sugestão de que existe, sequer, uma "segunda vista", é fatal, porque tudo devia ser e parecer claríssimo à primeira. Pergunto-me como pode o BCP ter aprovado uma campanha que é um verdadeiro tiro no próprio pé.

 

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