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Delito de Opinião

Civilidade e cidadania

Helena Sacadura Cabral, 07.07.14


Os que me conhecem sabem que tenho pouca paciência para querelas partidárias, sejam elas de que natureza forem. Não posso, não consigo. Só tenho uma cabeça e só por ela me guio, embora goste muito de ouvir opiniões diferentes das minhas.

Mudo muito? No básico, bastante pouco. Mas no olhar que lanço sobre o mundo que me rodeia mudo sempre que reconheço aos outros a capacidade de me convencerem. Não tenho qualquer pejo em me declarar errada e dar conta pública disso - se for o caso -, porque duvido que alguém se mantenha inalterável ao longo dos anos.

Mas procuro sempre não qualificar, não apelidar, não fazer juízos de valor sobre o adversário, que tento não considerar um inimigo. Enfim, sou o que se apelida de uma pessoa educada.

Aprendi isto ao longo da vida com a diversidade ideológica que caracterizou sempre a família onde nasci. Do lado materno nove irmãos, do lado paterno doze. Tudo gente que pensava por si e deu exemplo de respeito pelas cabeças dos outros.

Lembrei-me disto a propósito das quatro décadas passadas sobre o 25 de Abril e da actual querela no PS. Muitos já nasceram depois da primeira e o que sabem dela é o que lhes transmitem os seus, o ensino ou a investigação. Os restantes, os que a viveram, continuam, quarenta anos depois, a usar, para qualificar os que não pensam como eles, termos cujo significado já pertence à história da carochinha.

De facto, quem em 1974 tivesse 20 anos, terá agora 60. Haverá alguma lógica em epítetar estas pessoas pelo que eram na sua juventude? Será que em quatro dezenas de anos não teremos todos mudado muitíssimo?

Fico sempre muito impressionada quando leio a opinião de gente que ocupou cargos de responsabilidade, qualificar da forma mais deselegante, quem não pensa do mesmo modo. Mas se alguém quer levar o outro a mudar de opinião, será pela agressão verbal que o conseguirá?

O PS está numa campanha interna que devia ser esclarecedora daquilo que está em causa para o partido e para o país, uma vez que pretende governa-lo. Já estão todos engalfinhados e ninguém percebe onde está a verdadeira diferença entre Costa e Seguro. Talvez, mesmo, só, o estilo de cada um.

Os portugueses podem não ser os mais instruídos da Europa, podem não ser muito politizados, podem até ser instrumento partidário. Mas a maioria deles tem um enorme bom senso e sabe o que quer. Sabe castigar e sabe louvar. Basta que pensemos neles e no país, muito antes de pensar na ambição política. E isto vale tanto para o governo como para a oposição ou para as crises intestinas partidárias.

Por isso, sejam educados, por favor. Dêem um exemplo de civilidade e de cidadania!

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