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Há pessoas que se incomodam muito com tudo aquilo que sai da narrativa oficial. Preferem as versões confortáveis e as versões habituais. É natural, a sociedade portuguesa é profundamente conservadora, tem horror a mudanças e desconfia de imediato de todas as ideias que não sejam conforme aquilo que é o costume, ou seja, as ideias que não repitam a lengalenga folclórica, as banalidades regimentais, as barbaridades da praxe. Em Portugal, sempre se incineraram os pensamentos divergentes. Nada mudou. A diferença irrita e merece o exílio. A controvérsia é sempre uma escolha de trincheiras. É por isso que não temos debates nem sociedade civil. Qualquer pensamento que não tombe no conformismo é logo confrontado com críticas incompreensíveis e ataques que torcem a argumentação até que esta esteja docilmente domesticada. Isto explica em grande parte a nossa vocação para cauda da Europa.