Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

De mal a pior

Pedro Correia, 07.01.14

A presidente da Assembleia da República não acerta uma. Já era despropósito suficiente aceitar pronunciar-se sobre a possível trasladação dos restos mortais de Eusébio para o Panteão Nacional no próprio local onde decorria o velório. Pior foi falar em dinheiro numa situação destas, com uma chocante falta de sensibilidade, invocando os "custos muito elevados" dessa trasladação. E esteve ainda pior quando desceu ao concreto, aludindo às "centenas de milhares de euros" que isso acarretaria aos cofres do Parlamento - tudo isto antes de se realizar o funeral de Eusébio para o cemitério do Lumiar. No fim, o seu gabinete viu-se forçado a clarificar a questão num comunicado em que já se menciona uma quantia bem menor: 50 mil euros.

O que nos reconduz ao princípio: Assunção Esteves nunca devia ter falado como falou, no local onde falou, nas circunstâncias em que falou. E sobretudo nunca devia ter falado do que não sabe. Ao menos para evitar ser desmentida pelo seu próprio gabinete.

3 comentários

  • Imagem de perfil

    Pedro Correia 08.01.2014

    Houve exagero, é verdade. E uma sobredose "informativa" que já se confundia com puro voyeurismo. Sobretudo no cemitério, onde se impunha recolhimento e contenção. É como diz: o decoro parece ter passado a ser de mau-tom.
    Mas também é verdade que Eusébio foi a nossa primeira grande figura dos tempos modernos com popularidade à escala universal na era pré-globalização. O óbito foi notícia em 116 países, algo impensável em qualquer outro português da geração de Eusébio.
  • Sem imagem de perfil

    Costa 08.01.2014

    Certamente. Eu não nego a projecção internacional de Eusébio, entenda. Tinha-a, é um facto, o mérito é dele e não valerá muito a pena entrar agora por considerações sobre a importância exorbitada do futebol, a avassaladora hipervalorização das suas estrelas (e do futebol em si), a perversão que fenómeno encerra (em que os ídolos da juventude são, bem mais do que saudavelmente e enquanto desportistas, mas antes de forma verdadeiramente patológica: uns jogadores de bola - ou seus treinadores -, com roupagens, cortes de cabelo e automóveis excêntricos e fortunas colossais; demonstrando às mentes pouco dadas ao esforço - se alguma coisa demonstram - que o estudo, as profissões "normais", não compensa).

    Eusébio nem foi desses, manifestamente, e as coisas são o que são, aqui e em todo o lado: o desporto, por este lados (e não só) o futebol, quando passa de superação entre iguais para se transformar em negócio, não conhece escrúpulos - nem se lhos pedem verdadeiramente, ao contrário dos restantes negócios - e arrasta milhões.

    Os mesmos milhões que não toleram que o patrão - esse maldito fascista explorador - tenha um carro de 50.000, mas idolatram o miúdo sem modos à mesa (chamem-me o que quiserem, por escrever isto) e sem verdadeiras responsabilidades (o patrão sempre cria postos de trabalho e, em princípio pelo menos, pode até perder tudo e ser penalmente responsabilizado, se o negócio correr mal; e entre os pequenos patrões, sem a protecção de "empresas de regime" e por isso de sucesso garantido, nem é coisa tão incomum) que antes dos trinta anos tem um carro de 350.000 (ou mais) e uma fortuna com demasiados zeros para ser imaginada.

    Eusébio nem foi desses, insisto. O seu tempo, diria, foi outro. Desconhecido e inimaginável para tantos que tão vivamente o "choraram". Mais não fosse por isso merecia maior recato, respeito verdadeiro, dignidade, recolhimento e não festival e descarado aproveitamento, na sua despedida.

    Costa
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.