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Delito de Opinião

Um acto de resistência

Pedro Correia, 29.12.13

Entro numa Livriaria Bertrand mais próxima de casa, disposto a aproveitar os saldos em curso para comprar Os Níveis da Vida, de Julian Barnes, galardoado em 2011 com o Prémio Booker. A leitura de uma belíssima crónica de Jaime Nogueira Pinto, na última edição do semanário Sol, suscitara-me grande curiosidade por esta novela editada pela Queztal.

Reparo logo na obra em destaque, folheio-a e dou de caras com o aviso na ficha técnica: vem impressa em acordês. É quanto basta para devolvê-la ao escaparate. Prefiro ler Barnes noutra ocasião, em versão original, do que levar uma edição que afronta a minha consciência anti-acordista.

Felizmente não faltam nas prateleiras livros editados num português correcto, o anterior ao pseudo-acordo ortográfico de 1990. Encontro-os na livraria ao lado, a Barata. Uma obra de Winston Churchill em promoção: Os Meus Primeiros Anos (My Early Life), a primeira autobiografia do grande estadista britânico lançada originalmente em 1930, entre aplausos generalizados, e lançada em 2010 entre nós pela Guerra & Paz. E uma novela tardia de Alejo Carpentier, Concerto Barroco, traduzida por Helena Pitta para a Antígona e recém-lançada no mercado editorial português.

Vinte euros pelos dois livros, com a garantia de que nenhum deles mutila consoantes para satisfação de alguns linguistas brasileiros e do professor Malaca, pai e padrinho do aborto ortográfico. A contínua edição de livros em Portugal sem cedências ao prontuário acordista -- de que dou aqui testemunho diário -- é um saudável acto de resistência cultural que nós, leitores, devemos incentivar. Mantendo em 2014 a determinação já revelada em 2013.

Como diria Churchill, que recebeu o Nobel da Literatura em 1953, "não há mal nenhum em mudar de opinião -- desde que seja para melhor." Quando não for, é preferível ficar assim.

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