Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O primeiro passo do próximo ciclo político em Portugal

Pedro Correia, 19.12.13

 

Há poucos dias, uns tantos comentadores advertiam por aí que António José Seguro seria incapaz de estabelecer um acordo -- qualquer acordo -- com o Governo por estar condicionado pela bancada parlamentar do seu partido, em grande parte dominada pelos seus adversários internos. O secretário-geral do PS não tardou a desmentir esses comentadores, que umas vezes se limitam a sublinhar o óbvio e outras confundem os próprios desejos com a realidade, ao estabelecer o primeiro acordo da legislatura com Passos Coelho.

De uma só vez, Seguro marca pontos em vários tabuleiros.

Desde logo, mostrou ao grupo parlamentar quem é que manda no PS: sejam quais forem os estados de alma reinantes na bancada, os deputados socialistas terão de aprovar este acordo.

Depois, surgiu como salvador das pequenas e médias empresas -- que asseguram 75% dos postos de trabalho em Portugal -- ao levar Passos a aceitar uma taxa intermédia no IRC. Graças a este acordo, 400 mil empresas terão menos carga fiscal em 2014: não podiam receber melhor notícia.

Demonstrou, além disso, habilidade para usar os meios de informação de modo a obter o maior impacto possível no preciso momento em que o debate parlamentar da semana passada estava a ser transmitido em directo pelos canais televisivos. Aquele gesto de pegar no telefone e dialogar com o primeiro-ministro em pleno hemiciclo demonstra instinto mediático, sem o qual não existe eficácia real na acção política.

Mas o fundamental em tudo isto é a imagem de moderação que Seguro transmite aos portugueses. Separando o PS da esquerda radical, que serve para subtrair e não para somar. Mostrando, em suma, uma atitude responsável no plano institucional, própria de um líder político que está pronto para governar. E, mais que isso, que quer governar estabelecendo pontes em vez de cortar vias de diálogo.

Estamos, provavelmente, perante o primeiro passo do próximo ciclo político em Portugal. Há longos percursos que começam por muito menos.

 

Foto Lusa/José Sena Goulão

44 comentários

Comentar post