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Delito de Opinião

O "low-cost" sai caro

Sérgio de Almeida Correia, 12.12.13

Quando até um espírito aberto como João Miguel Tavares, que se auto-posiciona à direita do espectro político e admite ser liberal, seja lá o que isso for, desconfia da bondade das soluções encontradas para o processo relativo aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), um tipo fica de pé atrás. Quando um destacado deputado municipal de Viana do Castelo e militante do CDS/PP, partido que participa no Governo e sustenta a coligação parlamentar que o apoia, qualifica o processo de subconcessão dos ENVC como "facto sui generis" e "negociata low-cost" (vd. Público de hoje), a gente começa a remexer-se nas cadeiras. Quando depois é o presidente da Câmara de Viana, que até é de outro partido político, quem esclarece que "mesmo ao lado dos ENVC, a multinacional alemã Enercom, do sector eólico a quem os ENCV subconcessionaram, em Junho de 2006 até 2031, uma parcela com 106.607 m2 para a instalação de duas fábricas" paga "55 cêntimos por metro quadrado", sabendo-se que a Martifer irá pagar "cerca de 12 cêntimos por metro quadrado", não custa acreditar, como também disse o tal militante do CDS/PP, que "estamos perante uma declarada e óbvia negociata".

 

O  problema do meu país não são as negociatas "low-cost" que a maltosa engendra. O problema do meu país é que hoje em dia tudo é "low-cost". Quando se tem um governo "low-cost", dirigentes "low-cost", políticas "low-cost", primeiros-ministros e ministros "low-cost" e com formação "low-cost", é natural que os resultados alcançados sejam também "low-cost", que as reformas sejam "low-cost", a cultura "low-cost", os direitos sociais "low-cost", a justiça recorrentemente "low-cost", as PPP "low-cost", a educação "low-cost", os serviços consulares abaixo de "low-cost", a saúde "low-cost", e por aí fora, até ao ponto de haver quem deseje uma Constituição "low-cost".

Como normalmente também acontece com tudo o que é "low-cost", em especial quando se trata de bens "high-cost" como o interesse público, a educação, as políticas de saúde ou de apoio social aos mais carenciados, o preço que depois há a pagar por um serviço com um custo normal acaba por ser demasiado elevado. É nessas alturas que se percebe que as reformas também foram "low-cost", que o "low-cost" acaba por ser caro e é irreversível, havendo bens e serviços que não podem ser fornecidos em "low-cost" sob pena de não serem de todo fornecidos a quem precisa deles e não os pode pagar num mercado regulado "low-cost". A promessa da excelência "low-cost" conseguida à custa de todos é uma ilusão. O ex-ministro Gaspar ainda o conseguiu perceber a tempo de se pirar. Alguns nunca quererão perceber a razão por que pagamos duas vezes.

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