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Delito de Opinião

Dois pesos, muitas medidas

Sérgio de Almeida Correia, 03.12.13

Se havia ministro em quem acreditasse, em Junho de 2011, independentemente de um diferente posicionamento político-ideológico, que seria capaz de desempenhar um papel à altura das exigências do país era Nuno Crato. Com ele trazia a qualificação académica, a intervenção cívica, uma presença assídua na imprensa pensando com exigência questões pertinentes. Enfim, um conjunto de atributos e qualidades que à partida o distinguiam de alguns dos seus pares.

Volvido este tempo, em que se tornou patente o aumento da crispação dentro das escolas, a degradação do sistema de ensino, a desvalorização (a martelo) do papel da escola pública, dos professores e da comunidade educativa no seu todo, pensava eu que já estava tudo estraçalhado. Errado. Ainda faltava voltar a dar o dito por não dito pela enésima vez em matéria de avaliação de professores e de exames.

Quanto a esta última parte duvido que neste momento, para além dos visados, que têm sido tratados como bolas de golfe sujeitas às pancadas de um principiante da modalidade num driving range, alguém acreditasse na virtualidade de um modelo, qualquer que ele fosse, imaginado na 5 de Outubro.

O golpe de misericórdia acabou agora de ser dado. Inscrições obrigatórias, e pagas, ameaças várias, promessas sem fim, conferências de imprensa sem sentido e todo um rol de situações aparentemente sem solução, no final resumia-se a uma questão de números.

As proclamatórias declarações de princípio - e não apenas do ministro e do ministério mas também de alguns sindicatos - foram convertidas em números e sumariamente negociadas. Como na lota. Para quem deve, e continua a dever, quase tudo o que é hoje à escola pública e aos seus professores, e acompanha de fora, e longe, o permanente e surreal folclore negocial, torna-se difícil acreditar se será possível algum dia reconstruir o que se destruiu, restaurar a credibilidade das instituições, a estabilidade do sistema educativo e prestar um serviço capaz à comunidade. O espectáculo é deprimente.

Reformar todos viram que não foi possível. Mais difícil será amanhã um professor, com o sentido da sua missão, explicar a um aluno interessado, em termos que este possa entender e que um dia isso lhe possa ser útil, o que é uma questão de princípio. E, em especial, para que serve.

3 comentários

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    João André 03.12.2013

    Caro lucky, sabemos bem que nunca concordaremos, mas quero tentar compreender o seu pensamento. Uma pergunta simples: quais são, para si, o papel do Estado e do Governo? Já percebi (pelo que me parece) que preferiria uma escola exclusivamente privada. Provavelmente é contra toda e qualquer interferência do Estado no mercado, seja lá pelo lado que for. Suponho que alinha pelo mesmo lado no que diz respeito a saúde e pensões: cada um que trate da sua se quiser e que o faça com os privados. Estou correcto em assumir que assume (grosso modo) estas posições?

    Serve o Estado, na sua opinião, apenas para a justiça, a polícia e o exército? Ou nem isso? Não tome estas perguntas como ataque pessoal. Penso que estamos de acordo numa coisa: nunca teremos a mesma opinião sobre o Estado, mas gostaria sinceramente de saber qual o seu ponto de vista para o papel do mesmo.
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    lucklucky 05.12.2013

    Vou tentar explicar, dado o adiantado da hora não poderei elaborar muito.
    A questão é a Diferença . As Pessoas são diferentes.
    Não é só por questão moral, mesmo por interesse é algo a preservar por razões de redundância.
    No extremo, é importante haja pessoas que possam viver como primitivos na Amazónia se quiserem.

    Ora qualquer decisão que aplique a mesma regra a todos limita a liberdade de quem não está de acordo, de quem é diferente. Quanto mais regras, mais leis, menos liberdade a partir de determinado ponto pois há certamente leis que protegem a liberdade. Aquelas que punem quem age sobre outrem. Seja isto decidido por um ditador, por uma maioria, ou maior minoria.
    Embora não tenha acontecido até hoje por razões de insuficiente tempo de evolução histórica e pelas próprias defesas que tem, uma Democracia pode vir a ser Totalitária, basta os eleitores votarem para eliminar a Diferença.
    Logo um Estado deve ter um muito mais abrangente direito de Objecção de Consciência. Quem quiser deve poder dizer Não a várias decisões da votação vencedora.

    Na essência quem é diferente deve poder viver de maneira diferente, é isso a tolerância de que muitos falam.
    Por exemplo, uma ideologia que considero pela História repugnante, se um Comunista quiser fazer uma Comuna com as pessoas com que concorda, partilhando segundo as suas regras, não tenho nada contra antes pelo contrário. É a vontade dessas pessoas.
    Não têm é o direito de impor a sua vontade a quem não o é.
    Numa História alternativa não haveria nada a apontar ao Comunismo se tivesse seguido esse caminho. Seria um Comunismo que respeita os outros.

    O Estado seria - a la carte - quem quisesse teria determinados direitos para si sem afectar quem não os quer, pagando-os.
    Isto como é óbvio necessita de uma gigante mudança cultural, todos sabemos o que aconteceu aos Judeus por serem diferentes, a quem tem pele de outra cor, ou era e é de outra denominação religiosa mesmo dentro da mesmo religião. Seria preciso aceitar a diferença.

    Se a tecnologia evoluir como espero para a possibilidade de construir colónias fora do solo da terra - seja no mar ou no espaço- a prazo e com a trajectória que têm muitos países incluindo Democracias terão de construir Muros de Berlim para impedir pessoas de ir embora. Um país que é sustentável é aquele em que as pessoas quereriam viver mesmo que ao lado pudessem construir o seu próprio país. A evolução tecnológica ditará muito do futuro da política.
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