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Delito de Opinião

Livros de Cabeceira (24)

Rui Rocha, 13.11.13

Em rigor, o Casate y Sé Sumisa ainda não está na minha mesa de cabeceira e, se tudo correr bem, não ficará por ali muito tempo. O meu objetivo é, conto com a vossa discrição, comprá-lo o mais depressa possível e colocá-lo lá como quem não quer a coisa. Depois é só esperar que a curiosidade feminina faça a sua parte. Se tudo correr bem, em menos de duas horas o livro terá transitado para as mão da belíssima proprietária da mesa de cabeceira situada do lado de lá da cama. A partir daí, e com a ajuda da providência divina e da editorial Novo Início, ligada ao Arcebispado de Granada, os ensinamentos ali recolhidos começarão a produzir efeitos. Bem sei que são 16 euros de investimento e a vida não está para loucuras. Mas o livro, originalmente publicado em Itália por Constanza Miriano e ali recordista de vendas, contém de acordo com os editores a fórmula, dirigida exclusivamente ao elemento feminino do casal, da obediência leal e generosa: a submissão. Uma pechincha, portanto. Já antecipando o sucesso desta iniciativa, colocarei também na minha mesa de cabeceira, em jeito de reforço da mensagem, o nº 167 (Janeiro de 1948) da saudosa revista Menina e Moça. Mais uma vez, conto com a curiosidade feminina como cúmplice. Se assim for, a belíssima proprietária da mesa de cabeceira situada do lado de lá da cama estará em breve a ler passagens tão inspiradoras como esta:

(...) Por conseguinte, a mulher ideal deverá ser boa dona de casa mas sem massar os outros com os acontecimentos caseiros, compreensiva dos gostos e necessidades alheios, afectuosa para a família do marido, pontual, discreta, económica, sincera e leal, com bom génio, dócil, séria, pouco tagarela e sem usar baton. 

 

É certo que os tempos são outros. Será caso de aligeirar um pouco a nota e creio que a utilização do baton poderá admitir-se em certas e restritas ocasiões. Mas, em tudo o mais, estaremos de acordo que a mensagem tem ainda uma espantosa actualidade. Se tudo correr bem, a minha vida mudará radicalmente. É que, como dizia Brecht (este já tenho à cabeceira) em a Apologia da Dialéctica,  a continuação da opressão depende de nós. E eu, pela minha parte, conto com o sucesso deste plano genial para mudar as coisas cá por casa. Agora, se não se importam, vou indo. Está na hora de fazer uma máquina de roupa. Branca.

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