A prova dos docentes
Peço desculpa, mas até este momento não ouvi um único argumento válido contra a prova de avaliação dos docentes. E, antes de mais, devo esclarecer que em meu entender Portugal precisa de uma escola pública de qualidade. Só quem vive fora da realidade pode desconhecer o papel determinante que a escola pública tem no tecido social português. Em Portugal, a escola pública é, para além do mais, o suporte básico de vida de largos milhares de crianças e jovens. Só a escola pública lhes permite aspirar a uma vida diferente, só a escola lhes permite escapar a uma condenação de miséria. Tantas vezes, só a escola pública lhes permite comer. Acrescento que, mesmo num contexto de extrema dificuldade como o que vivemos, algumas medidas do presente governo são absolutamente criminosas. É evidente que mais do que 22 a 24 alunos por turma é uma enormidade que só com agudo sentido de hipocrisia Nuno Crato pode defender. E mais. Num país em bancarrota, é incompreensível que continue a existir dinheiro para uma frota automóvel pública colossal e que, em contrapartida, a falta de recursos seja invocada para justificar a existência de mais de 30 alunos por turma. Não é demagogia da minha parte. São opções da parte de quem as toma. Isto dito, regresso ao princípio. Não colhe o argumento de que a existência da prova descredibiliza as entidades formadoras. Muitas dessas entidades estão há muito descredibilizadas e a si próprias o devem. E, infelizmente, isso não sucede apenas relativamente às Escolas Superiores de Educação. Há muitas outras instituições que formam professores que não reúnem os requisitos mínimos para o fazer. Só a cegueira ideológica, o oportunismo político ou o corporativismo mais básico podem fazer calar esta evidência que se comenta e demonstra nas mais diversas salas de aula por esse país fora. Por outro lado, também não colhe o argumento de que a frequência de um curso com especialização em ensino torna a prova uma redundância. Vejamos. A conclusão de uma licenciatura em Economia atesta um determinado nível de conhecimentos. Mas, ninguém se escandaliza se, para preencher uma vaga numa empresa privada, esta submeter os candidatos a diversos testes e provas que avaliem o raciocínio numérico, verbal, diagramático e outras competências de um candidato. E não é o facto de a empresa escolher o candidato formado na Faculdade A em detrimento do licenciado pela Faculdade B que, só por si, retira credibilidade formadora a esta última. Pode-se discutir a natureza da prova. Mas reconheça-se que qualquer outra alternativa encerraria um nível de subjectividade bem superior (entrevistas, testes, dinâmicas de grupo?) do que uma prova de conhecimentos gerais e específicos corrigida de acordo com critérios objectivos. O sistema de ensino público deve viver para os alunos e com os professores, mas não pode estar ao serviço destes últimos. Independentemente das considerações que se possam fazer, o certo é que o sistema não está a absorver cerca de 50.000 professores anualmente. Se assim é, o fundamental é garantir o acesso dos mais preparados. A prova constitui uma garantia adicional de que será assim. Aliás, o interesse dos alunos exigiria, levado às últimas consequências, que a prova fosse aplicada não só aos professores contratados, mas também aos do quadro. Para um país com recursos tão escassos como Portugal, é tão grave ter turmas sobredimensionadas como professores impreparados.