O brainstorming da reforma do estado
Na empresa onde trabalho (indústria química) há de tempos a tempos um brainstorming (tem outro nome interno) subordinado a um tema escolhido antecipadamente. Durante o período definido para tal, os membros dessa jam podem lançar as suas ideias, com os motivos para a apresentarem, e uma indicação dos benefícios para a empresa, bem como porque razão faz sentido a empresa avançar com ela (experiência prévia, novos mercados, etc). No final, os temas mais votados pelos participantes e seleccionados por dois ou três painéis internos de especialistas e gestores acabam por receber uma dotação orçamental para serem desenvolvidos.
O Guião para a Reforma do Estado parece ter saído de uma sessão de brainstorming. O governo chegou ao pé dos seus funcionários, dos (sub)secretários de estado, dos especialistas, colaboradores, motoristas e quiçá empregadas de limpeza, e perguntou-lhes se teriam ideias para a reforma. O governo pegou nelas, decidiu-se por retirar aquelas que não fariam muito sentido (baixar o preço do Ajax limpa-vidros não fará muito sentido, suponho) e agora apresentou ao público em geral o apanhado.
O próximo passo será então a votação (eleições, claro) e a avaliação final pelo painel de especialistas e gestores (a troika tem mais gestores que especialistas, mas enfim). A diferença entre o Guião e o brainstorming aqui da casa é apenas e só uma: a segunda procura apenas uma ou duas ideias, as quais têm que estar subordinadas à estratégia da empresa; já o Guião para a Reforma do Estado acaba por ir pedir ideias que justifiquem a sua existência. O guiãozinho é portanto uma inutilidade absoluta, independentemente dos números de circo que sirvam para o apresentar.