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Delito de Opinião

Viveram felizes para sempre, mas enganaram-se muitas vezes no caminho...

André Couto, 28.10.13

Certamente que a teoria já foi explicada e assinada por alguém de renome, mas há muito digo que o problema das nossas frustrações em adultos reside nas histórias com que nos embalam em crianças. Aquela lengalenga do "e viveram felizes para sempre"/"fim", com base na parte encantadora da história e deixando por explicar como é que fizeram quando começaram a acordar gordos, sem base e com os olhos por limpar, quando passaram a ter de defecar com uma porta de madeira de permeio para a pessoa amada, como fizeram quando ficou evidente que ambos eram desprovidos de talento para a cozinha e as mães já não estão presentes, é algo assassino que não estamos preparados para gerir. "E agora?! Raios! A Cinderela limpava a casa e cozinhava como ninguém, e o Príncipe era cortês e sempre lindo de morrer..."
"E viveram felizes para sempre...?", "Au bout du conte", no título original, problematiza tudo isto, com um argumento inteligente e um leque de actores desprovido de estrelas, mas profundamente envolvidos na vivência das suas personagens, que encarnam como nenhum outro. No balanço isto é mais importante que ter visto Pitt ou Johansson.

Agnès Jaoui, a realizadora, é uma das intervenientes no filme, algo que adoro pois mantenho a ideia de que quando um realizador sai da cadeira, e vive o enredo, contagia os restantes.

Mas o que interessa é a forma feliz, ao bom estilo de Woody Allen, para quem gosta, como a narrativa se desenrola. Como a felicidade está ali ao lado e todos os guias de acção são úteis, menos os das histórias que nos ensinam em crianças, as quais marcam abundante presença simbólica no filme. A não perder!

PS. Infelizmente o livro não chega ao ponto de educar gentalha como o Manel, ou de ensinar como se lida com uma Senhora num casamento, ou mesmo depois dele.