Europeias (40)
PCP: SAUDADES DO COMECON
Li o programa do Partido Comunista Português às eleições europeias.
Principais propostas:
- Defesa de uma Europa de estados soberanos e iguais em direitos
- Rejeição do Tratado de Lisboa
- Suspensão imediata do Pacto de Estabilidade
- Medidas contra a deslocalização de empresas
- Direito de veto de cada país membro no Conselho Europeu
- Controlo por parte de cada estado do banco central nacional e da política monetária
- Orçamento comunitário reforçado
- Profunda reforma da Política Agrícola Comum
- Adopção de todas as línguas nacionais como línguas oficiais de trabalho na UE
- "Rejeição da militarização da UE"
Comentários:
1. O PCP peca por excesso onde outros pecam por defeito. Só por devoção comunista alguém lerá as 23 compactas páginas deste programa eleitoral (eu sou a excepção que confirma a regra). Um manifesto exagero.
2. Dei-me ao trabalho de contar: os comunistas mencionam 25 vezes o termo soberania neste programa. Uma expressão em tudo contrária ao internacionalismo de que o PCP se reclama.
3. O PCP proclama reiteradamente a sua aversão ao 'federalismo' europeu. É curioso: no tempo da defunta URSS, que aglutinava cerca de duas dezenas de repúblicas espalhadas por um sexto da superfície terrestre do planeta, jamais me apercebi de que os comunistas fossem contra o 'federalismo'.
4. Usa-se e abusa-se aqui do jargão próprio para arengar aos convertidos - 'políticas de direita', 'crise do capitalismo', 'recuperação monopolista', 'natureza de classe', 'ofensiva neoliberal' - que nada diz à generalidade dos eleitores, eternamente por converter.
5. O PCP não esconde a sua profunda aversão ao projecto europeu em que Portugal se integra. E chega ao ponto de considerar que "a adesão de Portugal à CEE/UE foi e é uma peça fundamental no processo contra-revolucionário português". Apetece perguntar se os dois deputados que o partido mantém no Parlamento Europeu também se inserem neste "processo contra-revolucionário". Já agora, outra perguntinha: em 1986, em vez de termos aderido à 'capitalista' CEE, deveríamos ter antes aderido ao Comecon?
6. Os comunistas insurgem-se contra a "utilização e produção de armas nucleares". Estarão a pensar na Coreia do Norte?
7. Em momento algum deste extenso programa o Partido Comunista justifica aos portugueses a manutenção da sigla CDU, fruto da 'coligação' com o inexistente partido Os Verdes, que jamais concorreu de forma autónoma a uma eleição.