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Delito de Opinião

Desabafo

Patrícia Reis, 23.10.13

Há uns anos, um dos meus filhos disse-me que não o tinha educado para ser, passo a citar, "salsicha nobre".

Por causa disso, na sua opinião, era difícil integrar-se. Pedi desculpa e acrescentei que aos vinte anos talvez me agradecesse. Ficámos assim.

Passou algum tempo, o rapaz, quase homem, entra na faculdade e, três semanas depois do início do curso, anuncia que está infeliz, que quer sair, que quer escrever, que quer ir à procura de um outro curso, não sabe qual nem onde.

Voltei a imaginar a dita da lata das salsichas e senti-me bastante culpada. Isto durou um minuto e meio, metaforicamente (é como quem diz uns dias e umas noites).

Não sou apologista da ida generalizada para a faculdade, nunca fui. Todos os anos, saídos das universidades, 60 mil pessoas enfrentam o mercado de trabalho com desalento. Ao mesmo tempo, não tendo uma bola de cristal, sempre pensei que não devemos ter um excell para a vida dos filhos e, em consequência, sendo solidária, dizendo umas coisas aqui e ali, deixei que a escolha fosse individual. Isto implica responsabilidade, alguma capacidade de ouvir os outros e até uma certa pesquisa, para saber onde se vai meter.

Três semanas volvidas, a faculdade tornou-se um tormento. Ora, a vidinha também é um tormento. Digo eu. E reforço que o melhor será não olhar para o copo como meio cheio ou meio vazio, dar graças por ter um copo. A criatura responde que o dele se partiu. Se é o caso, há pelo menos 90% da população universitária que ficou sem trem de cozinha, pensei eu com alguma ironia.

É evidente que pode sair, mudar de curso. Até de país, embora não o queira fazer. Convém é saber que a vidinha, na generalidade, traz dissabores e ter duas cadeiras menos interessantes não é caso para mandar um curso às urtigas. Digo eu, outra vez.

Eventualmente, ele mandará o curso às urtigas e tudo bem. Pelo menos para mim. Para ele, o caso é diferente. Quer mesmo fazer uma licenciatura e depois um mestrado e um doutoramento, já que pode dar aulas a seguir. É o plano. Dele. Mas o copo partiu-se e ele não cabe na lata.

O que faz uma mãe? Não faço a mais pequena ideia.

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