Outono quente
1. Já existe o canal Parlamento. Ainda não existe o canal Conselho de Ministros. Mas já faltou mais: as fugas de informação cirúrgicas tornam-se generalizadas e ganham a emoção de um relato de futebol. O sentido de Estado parece ter emigrado para parte incerta.
2. Difundir informações sem fundamento, causando um inconcebível alarme social, não penaliza só uns: penaliza todos.
3. Largar más notícias com abundância pelas manchetes da imprensa e pelos comentadores mais próximos enquanto se gere o silêncio: eis todo um programa de acção.
4. Bastam dez pessoas aos berros durante cinco minutos: as redes sociais transmutam a berraria em notícia, validada pelos chamados órgãos "de referência", muitos deles cheios de editoriais contra o "populismo". Meio século depois, nunca Marshall McLuhan esteve tão actual: o meio é a mensagem. Que, pelo efeito de banalização, logo se transforma em massagem.
5. Cento e cinquenta mil portugueses trabalham em Angola, nosso principal fornecedor de petróleo. Portugal é o maior parceiro comercial de Luanda. Há 8800 exportadoras portuguesas no mercado angolano, por mais que isso incomode certos aprendizes de feiticeiro. A parceria estratégica, que serve os interesses nacionais, devia ficar à margem da luta partidária. Para não desembocar nisto.
6. Taxa sobre produtores de electricidade, anunciada com espavento, vai repercutir-se na bolsa do consumidor. Eduardo Catroga, com notável despudor, já tinha avisado.
7. Bastam seis meses para a ambição partidária suplantar o espírito de serviço público? Se não é parece.
8. A extrema-esquerda em marcha. Abrindo caminho à extrema-direita: não acreditem que acontece só lá. Como alertava o PCP quando estava no Governo, em 17 de Junho de 1974, "as formas de luta devem ser cuidadosamente examinadas antes de decididas".