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Delito de Opinião

O que estou a ler (19)

João André, 14.10.13

Uma dos maiores falhas no ensino que sofri foi a nível de história. Recebi uma introdução à pré-história, algo sobre as civilizações da antiguidade (Suméria, Egipto, Grécia, Roma) e depois disso só voltei a aprender algo sobre história não portuguesa quando cheguei às guerras mundiais do século XX. Para a disciplina de história (pelo menos de quem estudou as ciências naturais na escola secundária), o resto do mundo ou pelo menos da Europa pouco interesse tinha. Desde então que vou tentando compensar as minhas enormes lacunas nessa área, especalmente levando em consideração que vivo no centro da Europa.

 

É nesse sentido que acabei por comprar este livro: The German Genius, de Peter Watson. No prefácio/introdução, o autor explica que se decidiu a escrever o livro dada a falta de conhecimento em Inglaterra acerca da História e Cultura alemãs exceptuando as duas Guerras Mundiais (especialmente a segunda). O objectivo é então falar acerca do que chama de terceiro Renascimento europeu (a seguir ao italiano e ao britânico e francês - essencialmente o iluminismo) e da influência que teve na cultura alemã e europeia. Deve ser notado que quando Watson fala da Alemanha, está essencialmente a referir-se ao espaço de língua alemã, que incluía a região que é hoje Alemanha mas também a Suíça, a Áustria (com um território bastante mais extenso nos séculos XVIII e XIX) e a partes do que é hoje Polónia, República Checa, Eslováquia, etc.

 

O livro lê-se a espaços muito bem, quando Watson escreve sobre os movimentos históricos, as reformas institucionais ou a mudança de paradigma que estas acarretaram. Quando entra em pormenores como filosofia, filologia, literatura ou outros semelhantes, confesso que me sinto de tempos a tempos perdido, por me faltarem bases mais sólidas nestas áreas do saber. Quando entra pela área da Biologia, Matemática, Física ou Química sinto-me mais à vontade para o seguir, mas também se nota que o autor tem mais dificuldade em explicar estas áreas e prefere referir a sua importância histórica em vez de se debruçar mais profundamente sobre a revolução que estes conceitos científicos acarretaram.

 

De uma forma geral o livro lê-se bem e dá uma excelente perspectiva sobre a influência que este Renascimento alemão teve sobre o mundo que temos hoje. Entre outros explica como foi fundada a nova universidade, com a integração do doutoramento como o entendemos hoje; as publicações científicas; as novas visões filosóficas do mundo e como influenciaram a sociedade alemã e, a espaços, a inglesa e americana; a forma alemã de ver a História, baseada nas relações entre sociedades e potências e menos debruçadas sobre o indivíduo ou pequenos grupos; etc.

 

Os principais defeitos são uma enervante tendência de cair em name dropping, onde certos nomes são dados, por vezes indicando que são importantes ou até mesmo acompanhados de uma curta biografia, mas sem grandes esclarecimentos sobre a sua importância. Outro defeito é uma tendência para engrandecer a influência alemã ou mesmo o esforço para demonstrar que foram alemães os primeiros autores de certos conceitos, em desfavor de outros nomes ou países europeus (franceses, ingleses e escoceses são frequentemente referidos como contribuindo com um conceito inicial mas pouco desenvolvido ou como receptores da sabedoria alemã).

 

Apesar de ainda não ter terminado o livro (na edição que estou a ler tem umas extensas 700 páginas), é já possível entender as origens de certas formas de pensar que noto no meu dia a dia em colegas alemães. The German Genius terá lacunas e defeitos, certamente, mas para um público genérico é um excelente ponto de partida para entender as origens daquele que será o mais importante estado europeu dos nossos tempos.

 

Quando terminar este livro, avançarei para um outro que se debruça também sobre um momento fundamental da história alemã, mas com repercussões muito mais extensas para toda a Europa: a Guerra dos Trinta Anos, no livro Europe's Tragedy, de Peter H. Wilson. Depois darei notícias.

 

Com este post terminamos a série O que estou a ler. Em breve teremos outras.

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