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Delito de Opinião

Arrumar a biblioteca (XVI)

Pedro Correia, 26.09.13

 

Saint-Exupéry, Naipaul e Lampedusa

 

Dizia alguém que toda a literatura de excelência se resume a uma grande viagem. Desde a Odisseia, de Homero. Embora essa viagem possa ser feita à volta de um quarto. E pode até expandir-se para além do nosso planeta, como antecipou Verne. Ou em vez de ser no espaço, como nos ensinou Proust, pode ocorrer no tempo.

 

Os livros de viagens ocupam uma parte considerável da minha biblioteca. Desde logo, os guias e roteiros -- com os da American Express e da Lonely Planet em maior número. E obras que nos fazem amar uma cidade ainda antes de a conhecermos, de que é exemplo esse fabuloso livrinho de Ruy Castro intitulado Rio de Janeiro -- Carnaval no Fogo.

Como sempre gostei de mapas, antigos e modernos, tenho vários atlas. Conservo até o primeiro que me ofereceram, ainda em miúdo: o Grande Atlas Universal da Verbo.

Aliás o maior livro cá de casa é um atlas -- Comprehensive Atlas of the World, editado pelo Times, de Londres. Maior não pelo número de páginas, apenas 220, mas pela altura: 46 centímetros, o que me obriga a mantê-lo deitado. Posição cómoda para ele mas incómoda para quem gostaria de não o guardar num lugar à parte.

Logo a seguir são os álbuns de viagens, pela sua dimensão, a ocupar maior espaço, exigindo figurar nas prateleiras mais altas. Trago sempre álbuns de todos os países e cidades além-fronteiras por onde tenho passado. Porque as viagens bem sucedidas ampliam-se invariavelmente através dos livros.

Tenho também o hábito de trazer álbuns dos museus que visito no estrangeiro. O Prado, o Louvre, a National Gallery de Londres, o MoMA de Nova Iorque, o Musée d'Orsey, de Paris, o Kunsthistorisches Museum de Viena, o Museu Nacional de Estocolmo...

 

Mas as melhores viagens literárias ocorrem sempre nas páginas dos grandes autores. De avião, em Voo Nocturno, de Saint-Exupéry. De barco, em Tufão, de Conrad. De comboio, com Jack London, em Vagabundos Cruzando a Noite. À boleia, com Jack Kerouac, em Pela Estrada Fora. Ou até de balão, com Júlio Verne.

Verne foi talvez o autor com quem mais viajei. Pelo menos nos seguintes livros, que tenho já devidamente arrumados e catalogados:

- A Carteira do Repórter

- A Estrela do Sul

- A Ilha Misteriosa

- A Mulher do Capitão Branican

- A Volta ao Mundo em 80 Dias

- As Aventuras de Três Russos e Três Ingleses

- As Índias Negras

- Aventuras do Capitão Hateras

- Cinco Semanas em Balão

- Clovis Dardentor

- Da Terra à Lua

- Em Frente da Bandeira

- Miguel Strogoff

- O Bilhete de Lotaria nº 9672

- O Castelo dos Cárpatos

- O Farol do Cabo do Mundo

- O Náufrago do Cynthia

- O Tio Robinson

- O Vulcão de Ouro

- Os Filhos do Capitão Grant

- Os 500 Milhões da Begum

- Um Herói de 15 Anos

- Uma Cidade Flutuante

- Viagem ao Centro da Terra

- Vinte Mil Léguas Submarinas

 

 

Vou a Tânger com Paul Bowles (O Céu que nos Protege), a Amesterdão com John Irving (A Porta no Chão), a Lima com Vargas Llosa (Conversa n' A Catedral), a Barcelona com Vásquez Montalbán (Os Mares do Sul), a Cuba com Hemingway (O Velho e o Mar), a Dominica com Jean Rhys (Vasto Mar de Sargaços), ao Haiti com Greene (Os Comediantes), ao Congo com Naipaul (A Curva do Rio), à África do Sul com Coetzee (Desgraça), à Riviera francesa com Fitzgerald (Terna é a Noite), à Sicília com Lampedusa (O Leopardo), à floresta amazónica com Ferreira de Castro (A Selva), ao sul dos Estados Unidos com Harper Lee (Por Favor não Matem a Cotovia) e Carson McCullers (Coração, Solitário Caçador).

 

Atlas, roteiros de viagens, guias de cidades, álbuns de museus: de tudo isto também se faz uma biblioteca.

 

E agora viajo convosco musicalmente até ao Japão. Ao encontro do inimitável Ryuichi Sakamoto.

 

Sayonara. Até amanhã.

 

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