Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Arrumar a biblioteca (XII)

Pedro Correia, 20.09.13

 

Savater, Tony Bennett e Bénard da Costa

 

Não sei se convosco costuma passar-se o mesmo. Mas comigo acontece. Há certos autores -- que passámos a conhecer por vezes nem nos lembramos onde nem como nem porquê -- que acabam a fazer parte do nosso património pessoal. É assim que os sentimos, é assim que acolhemos cada obra deles. Passam a ser "muito cá de casa", parafraseando a deliciosa expressão tão portuguesa, muito delicada e já muito antiga, que João Bénard da Costa de novo popularizou nas inesquecíveis crónicas que assinava nas décadas de 80 e 90 no semanário O Independente e que foram do melhor que li desde sempre na imprensa portuguesa (por falar nisto: onde param os livros dele, que tantas vezes li e reli, editados pela Assírio & Alvim? Não consigo encontrá-los...)

 

Um dos autores a que me refiro é o professor universitário, filósofo, pensador, romancista e polemista espanhol Fernando Savater. Comecei a lê-lo regularmente no El País, onde assina desde a década de 70 os mais estimulantes textos dados à estampa neste diário, e prolonguei a minha atenção de leitor do jornal para os livros. Que fui comprando um a um, quase sem dar por isso, à medida que apareciam e os encontrava.

Comecei pela recolha de crónicas jornalísticas (e aqui recordo novamente João Bénard), um género literário que devia ser mais cultivado pelas editoras portuguesas. As de Manuel António Pina, reunidas também na Assírio & Alvim, e as de Miguel Esteves Cardoso, com a chancela Porto Editora, são imperdíveis.

Agora que ponho os livros em ordem descubro que tenho dez de Savater. Pelo menos dez (nunca se sabe quando saltará mais algum de um caixote ainda por abrir).

São estes:

 

- A Infância Recuperada (Presença)

- O Conteúdo da Felicidade (Relógio d'Água)

- Livre Mente (Relógio d'Água)

- A Vida Eterna (Dom Quixote)

- O Meu Dicionário Filosófico (Dom Quixote)

- Os Dez Mandamentos no Século XXI (Dom Quixote)

- Ética para um Jovem (Dom Quixote)

- Sobre Viver (Teorema)

- Contra as Pátrias (Fim de Século)

- La Aventura de Pensar (Delbolsillo)

 

Gosto de todos estes livros perpassados de erudição numa linguagem quase coloquial nunca destituída de sentido de humor, uma das características que mais aprecio neste autor.

Mas a obra eleita dele, para mim, é A Infância Recuperada, fabulosa digressão pela literatura juvenil e pela chamada literatura popular, sem sombra de pose universitária. Savater confessa gostar de obras e de autores que levaram muita gente a amar o mundos dos livros à revelia dos cânones instituídos pelos putativos gurus do bom gosto.

E refiro isto para vos confessar que fui reunindo aos poucos um subgénero na minha biblioteca: o dos livros que falam sobre livros. É um pequeno mundo que não cessa de me fascinar.

Agora, que os agrupei, verifico que são mais do que imaginava. Eis alguns deles (em lista ainda provisória):

 

- Os Livros da Minha Vida, de Henry Miller (Antígona)

- Como um Romance, de Daniel Pennac (Asa)

- A Angústia da Influência, de Harold Bloom (Cotovia)

- Como Ler e Porquê, de Harold Bloom (Caminho)

- A Cultura Inculta, de Allan Bloom (Europa-América)

- Intelectuais, de Paul Johnson (Guerra & Paz)

- Dez Livros que Estragaram o Mundo, de Benjamin Wiker (Alêtheia)

- História Abreviada da Literatura Portátil, de Enrique Vila-Matas (Assírio & Alvim)

- Os Livros que Lemos, de Lisa Adams e John Heath (Estrela Polar)

- As Lições dos Mestres, de George Steiner (Gradiva)

- Paixão Intacta, de George Steiner (Relógio d'Água)

- A Biblioteca Privada de Hitler, de Timothy W. Ryback (Civilização)

- Guia para 50 Personagens da Ficção Portuguesa, de Bruno Vieira Amaral (Guerra & Paz)

- A Consciência e o Romance, de David Lodge (Asa)

- Porquê Ler os Clássicos, de Italo Calvino (Teorema)

 

 

Acabo de comprar mais um, já reunido aos restantes: o novíssimo Como Ler um Escritor, de John Freeman, director da revista literária Granta. Com etiqueta Tinta da China.

 

Gosto de ler sobre livros. E estou a gostar de arrumar a biblioteca. Hoje, alternadamente, ao som mais trepidante de Chucho Valdés em Bele Bele en La Habana e mais relaxante de Bill Charlap em Stardust.

Deixo-vos aqui uma faixa deste disco. Com Charlap ao piano e Tony Bennett superlativo. Como sempre.

 

Até segunda-feira.

 

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.