Arrumar a biblioteca (IX)
Henry Miller, Oscar Peterson e o Ipiranga
Não vale a pena inventar na hora da distribuição dos livros pelas estantes. Separados os autores portugueses dos demais, e afastados os títulos pertencentes às chamadas artes literárias da restante literatura, há no entanto zonas de confluência que merecem prioridade.
São as colecções -- numeradas, em diversos casos -- que aglutinam os mais diversos nomes, géneros e nacionalidades.
Não faz o menor sentido separar estes títulos. Começo portanto por reuni-los: cabe-lhes a primazia na minha biblioteca.
Que colecções são estas?
Começo por aquelas que tenho em maior número. Desde logo a Mil Folhas, lançada em 2003/2004 pelo jornal Público. Cem títulos no total. Falta-me apenas um, o nº 98: O Sorriso aos Pés da Escada/Moloch, de Henry Miller. Cheguei a deslocar-me há uns anos à loja do jornal, então ainda nas Picoas, para adquirir este exemplar mas responderam-me que estava esgotado. Não perdi a esperança de o adquirir, como é evidente. O encanto das colecções é permanecerem incompletas: perdem grande parte do interesse no momento em que as completamos.
Segue-se a colecção Ficção Universal, da D. Quixote, que divulgou muitos autores de nomeada (Milan Kundera, Salman Rushdie, Naipaul, Nabokov, Carlos Fuentes, Marguerite Yourcenar e um imenso etc.). É a segunda a ocupar-me mais espaço, embora esteja muito longe de poder completá-la.
Ao contrário do que sucede com a do Público, a da D. Quixote deixou de ter numeração a partir de certa altura (a última que tenho com número é Viver para Contá-la, de García Márquez, o 309 da série; mas A Gente de Smiley, de Le Carré, e A Ignorância, de Kundera, já não ostentavam números nas lombadas).
Disponho, portanto, todos os volumes desta colecção por ordem alfabética dos apelidos dos autores, como sucede em muitas livrarias -- do A de Jorge Amado (Tereza Batista Cansada de Guerra) ao Z de Carlos Ruiz Zafón (O Jogo do Anjo).
Fica assim.
Estas são as colecções principais.
Mas há várias outras.
Falarei delas nos próximos dias, não hoje. A Tereza Batista cansou-se da guerra e eu cansei-me da biblioteca por agora. Vou ler a mais recente edição da revista Veja, há muito uma das minhas publicações preferidas.
Começo, como de costume, pela coluna da última página quando é assinada por Roberto Pompeu de Toledo. Que, a propósito da celebração de mais um 7 de Setembro no Brasil, decidiu seguir o curso do Ipiranga a partir da nascente, no Jardim Botânico de São Paulo.
O resultado é surpreendente.
E desta surpresa resulta mais uma excelente crónica. Nada a ver com o mitológico grito do infante D. Pedro, futuro imperador, nem com o primeiro verso do hino nacional brasileiro.
Ouço música enquanto leio. Não hinos nem marchas militares, mas a fabulosa dupla formada pelo piano de Oscar Peterson e pelo saxofone tenor de Ben Webster. Em When Your Lover Has Gone, segunda faixa do disco que os reuniu, gravada em Novembro de 1959. Ben Webster Meets Oscar Peterson.
O encontro de dois gigantes.
Até amanhã.