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Delito de Opinião

Arrumar a biblioteca (VII)

Pedro Correia, 13.09.13

 

Kafka, Nixon e Burt Bacharach

 

De ontem para hoje isto alterou-se muito. E a minha estupefacção aumenta.

Porquê?

Porque encontro cada vez mais duplicações nos livros que comecei a distribuir pelas estantes. A um ponto que nunca imaginei.

Vou enumerar algumas das obras que tenho repetidas (a lista, acentuo, está longe de ser exaustiva):

- As Aventuras de Tom Sawyer (Mark Twain)

- Mar Morto (Jorge Amado)

- As Neves do Kilimanjaro (Ernest Hemingway)

- A Peste (Albert Camus)

- O Nome da Rosa (Umberto Eco)

- A Náusea (Jean-Paul Sartre)

- O Som e a Fúria (William Faulkner)

- Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago)

- Morte em Veneza (Thomas Mann)

- As Vinhas da Ira (John Steinbeck)

- O Estrangeiro (Camus)

- O Amante de Lady Chatterley (D. H. Lawrence)

- Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)

- Ficções (Jorge Luis Borges)

- Contos de Natal (Charles Dickens)

- As Torrentes da Primavera (Hemingway)

- O Ano da Morte de Ricardo Reis (Saramago)

- Lolita (Vladimir Nabokov)

- Crime e Castigo (Fédor Dostoievski)

- O Túnel (Ernesto Sabato)

- Um Espião Perfeito (John Le Carré)

- Pequenas Infâmias (Carmen Posadas)

- No Coração das Trevas (Joseph Conrad)

- A Terceira Rosa (Manuel Alegre)

- O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)

- Pela Estrada Fora (Jack Kerouac)

- Barranco de Cegos (Alves Redol)

- O Americano Tranquilo (Graham Greene)

- Por Favor Não Matem a Cotovia (Harper Lee)

 

Tanto livro. Enquanto ouço Chico Buarque cantando Tanto Mar. Há pouco, Caetano Veloso interpretava Salva Vida com a irmã (do álbum Uns, de 1983). Daqui a pouco estarei a escutar outro CD que reservei para me dar música nesta empreitada: The Look of Love - The Burt Bacharach Collection -- 50 faixas, grande parte delas a justificar nota máxima.

 

 

Em certos casos -- não me perguntem porquê pois sou incapaz de responder -- tenho não dois mas três exemplares da mesma obra, sempre de edições diferentes.

É o que sucede, entre os autores estrangeiros, com 1984 (de George Orwell), O Processo (Franz Kafka), O Velho e o Mar (Ernest Hemingway), O Grande Gatsby (Scott Fitzgerald), Gente de Dublin (James Joyce) e Boneca de Luxo (de Truman Capote; neste caso a mais antiga das edições portuguesas, anterior ao filme de Blake Edwards, intitula-se Ao Começo do Dia, tudo muito diferente do original Breakfast at Tiffany's).

Entre os portugueses, encontro três cópias de O Senhor Ventura (de Miguel Torga) e Húmus (Raul Brandão). Tratando-se também, em qualquer dos casos, de edições diferentes. Um dos exemplares de Húmus, que herdei do avô paterno, é primeira edição -- certamente um dos volumes mais valiosos que tenho cá por casa.

 

O que fazer a estas obras em duplicado e triplicado?

 

Escuto agora uma das minhas canções favoritas deste álbum homenagem a Bacharach -- álbum também duplo, para condizer com os livros. I Say a Little Prayer, imortalizada por Aretha Franklin, a diva do soul.

E troco o escritório pela sala. Para rever uma das mais extraordinárias entrevistas televisivas de todos os tempos: a que David Frost fez em 1977 ao ex-presidente norte-americano Richard Nixon. A SIC Notícias anda a exibi-la, demonstrando pela enésima ver que um operador televisivo privado pode fazer verdadeiro serviço público.

Frost entrevista um derrotado. Nixon ocupou o posto máximo a que um político pode aspirar no planeta: teve tudo ao seu dispor e viu tudo desfazer-se à sua volta, por culpa própria, passando à História como o primeiro chefe da Casa Branca forçado a demitir-se.

Retirado na sua mansão de San Clemente, este Nixon que emerge de sombras kafkianas é um homem profundamente amargurado. Tem dinheiro, tem o tempo todo ao seu dispor, joga golfe e viaja para onde quer, mas garante ao entrevistador que só sonha com uma quietude destas quem não sabe realmente o que é a vida. «O que dá sentido à vida são os objectivos, é haver uma meta, uma batalha, uma luta, mesmo que não a ganhemos.»

Um excepcional trabalho jornalístico que devia ser matéria obrigatória em todos os cursos de formação de profissionais da comunicação social.

 

E deixo-vos com um dos temas de Burt Bacharach que ouço sempre como se fosse a primeira vez. Tema que integrou a banda sonora de um inesquecível western. Um filme que termina com um dos maiores saltos no abismo de que há memória no cinema -- algo semelhante àquele que selou a fulgurante e malograda carreira de Nixon.

Até segunda-feira.

 

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