A mão que embala os incendiários
Quando morrem bombeiros a ladainha sazonal dos políticos choca-me mais, porque sei - com o saber da experiência feito - que é inconsequente. Há dias Marques Mendes admitiu na televisão que os discursos circunstanciais da época são "hipócritas" porque, assim que o Verão termina, as medidas anunciadas de prevenção e combate aos fogos ficam imediatamente esquecidas até ao Verão seguinte. E reconheceu que esta atitude se tem perpetuado de governo em governo, ou seja, que as culpas estão democraticamente distribuídas por todos os que ocuparam cargos de decisão nas últimas décadas. Os políticos que não estão no activo são assim, desassombrados. A frontalidade é uma forma de exercerem também o seu direito à hipocrisisa.
As medidas que ficam na gaveta de ano para ano são bem conhecidas de todos, já que na época dos fogos são sempre lembradas, nos mais diversos fóruns. É impossível evitar de todo os incêndios florestais, mas os nossos piores anos começaram a somar-se no passado recente, não por acaso. Sei que pouco depois do 25 de Abril a rede de guardas florestais que residia nas florestas foi desmantelada e o combate aos fogos saiu da alçada da então Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, onde se concentravam os especialistas, quase todos engenheiros silvicultores de formação. A partir daí foi o caos. Os bombeiros, na época sem treino específico de combate a incêndios florestais, passaram a liderar as operações nas frentes dos fogos com resultados desastrosos.