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Delito de Opinião

E agora?

Pedro Correia, 22.08.13

 

Abri duas excepções nos últimos anos, com Segurança Nacional e The Bridge. Mas, em regra, sigo sempre as séries televisivas muito depois da estreia - quando posso, quando me interessa, quando me apetece, quando calha.

E sigo-as em bloco, mergulho nelas, como um espectador compulsivo.

Nos últimos 20 dias estive em Copenhaga. Envolvido numa das mais fascinante séries que vi até hoje: Forbrydelsen (palavra que significa crime, em dinamarquês). Conheci a detective Sarah Lund, da polícia dinamarquesa, e acompanhei-a na investigação de um homicídio que quase todos em redor dela consideravam irresolúvel. Sem qualquer vestígio daquele glamour muito maquilhado que costuma contaminar as produções norte-americanas de um insuportável artificialismo.

 

 

Mais de cem países já puderam ver esta série produzida em 2007 pela DR1, canal público dinamarquês, que em Portugal se chamou (à boleia da tosca tradução espanhola) The Killing - Crónica de um Assassinato e abriu caminho a várias outras - italianas e francesas, por exemplo - que através de toda a Europa passaram a ser vistas com legendas, algo que para nós é uma banalidade de longas décadas mas que para outros povos constitui ainda uma novidade.

No diário britânico The Guardian, Sam Wollaston chamou-lhe, e com razão, uma das melhores séries de todos os tempos, dando-lhe nota máxima. E Ben Dowell - que, como eu, também a viu em diferido - compara-a justamente a outra série hipnótica: a mítica Twin Peaks, de David Lynch, elogiando os fabulosos desempenhos de Sofie Gråbøl, no papel de Sarah, e Ann Eleonora Jørgensen, que interpreta Pernille Birk Larsen, a mãe de Nanna, uma jovem universitária violada e barbaramente assassinada.

Os americanos, que são alérgicos a legendas e idiomas que não dominam, preferiram produzir a sua própria série, inspirada nesta. Ainda não a vi e nem sei se me apetecerá. Porque a original - um extraordinário thriller que cruza polícias e políticos, quase sempre depois do pôr-do-sol - me parece imbatível. Em intensidade, autenticidade, criação de atmosfera, desenho de personagens, domínio do tempo e qualidade artística.

E agora?

Após três semanas a conviver com ela (vendo-a e por vezes revendo-a), no pacote de repetições de Verão do AXN Black, interrogo-me se haverá outra ao mesmo nível que mereça a minha atenção exclusiva. Noite após noite, sem dar pela passagem do tempo. Transplantado de Agosto em Lisboa para Novembro em Copenhaga, com um vento nórdico a empurrar para longe o calor deste Verão.

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