Media: Olhar para trás antes de dar um passo em frente
Este post do Pedro fez-me voltar a esta notícia do Público e a reflectir sobre a qualidade da informação (não só portuguesa) e da influência que isso terá no declínio dos media tradicionais.
Veja-se o caso retratado pelo Pedro: uma televisão decidiu não exercer o contraditório assim subscrevendo a posição de um dos lados. Neste caso foi a TVI, mas no passado poderemos certamente encontrar outros exemplos semelhantes por parte de outras televisões. A sensação que me fica é que o exercício de contraditório é uma decisão do jornalista e não é verficado pela direcção/revisão.
Temos ainda o caso da entrevista de Judite de Sousa, que procurou enxovalhar em directo um convidado (não vou discutir a hipocrisia, não me parece condição necessária para um jornalista praticar seja lá o que for). Acaba por ter em público uma atitude que é vista como popularucha e que serve para atrair espectadores. Aquilo que ninguém parece questionar é o interesse jornalístico da entrevista.
Um outro caso aqui, no Público. Se querer menosprezar o sofrimento da família, pergunto-me qual a relevância nacional de um afogamento de uma criança. Infelizmente são acidentes que sucedem todos os anos, em rios e no mar. Tal como todos os dias haverá gente a morrer em acidentes de viação ou domésticos ou de outro tipo. Cada morte é uma tragédia, mas nem todas as tragédias são notícia.
Lembro-me de ter no passado jornais com secções muito bem definidas e critérios editoriais que não passavam por aspirar a ser novos Correios da Manhã. Lembro-me também de telejornais que duravam 30 minutos, começavam com a principal notícia do dia, passavam por notícias nacionais, internacionais, culturais e desportivas e onde os directos não serviam para o jornalista no local papaguear exactamente a mesma informação que o pivot deu uns momentos antes. Até me lembro de não precisar de ter uma aplicação de Adblock no navegador da internet para evitar ter 50% do meu ecrã preenchido por anúncios quando leio notícias online.
É verdade que a internet veio romper com o anterior modelo de negócio dos media. Só que, tal como noutros casos (música, televisão, cinema), a internet acaba por ser o bode expiatório de todos os fracassos. Se a internet permite satisfazer, a baixo custo, a sede de notícias e a uma velocidade que os media tradicionais não podem igualar, também não deixa de ser verdade que, enquanto quarto poder, os media não podem aceitar ser ultrapassados por simples blogues, facebook ou twitter.
É certo que qualquer evolução dos media embate na disponibilidade de pagar por conteúdo, mas se o conteúdo for de fraca qualidade, mal organizado e sem critério claro, é óbvio que essa disponibilidade se reduz. Num momento em que se olha em frente para procurar novos modelos de negócio (vide a compra do Washington Post por Bezos), talvez fosse uma boa ideia olhar para o passado em busca de inspiração.