Notícia sem contraditório
Hoje houve uma tourada em Viana do Castelo. Praça cheia, com mais de três mil pessoas. Alguns manifestantes - vários dos quais oriundos de outras zonas do País, como a presidente da associação Animal, que há dias decidiu chamar Mandela a um cão responsável pela morte de uma criança - protestaram contra a realização do espectáculo, devidamente autorizado pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga.
Tudo normal: uns a favor, pagando bilhete para a tourada; outros contra, do lado de fora. Pormenor a assinalar: havia muito mais gente dentro da praça do que fora.
A RTP fez uma peça equilibrada no seu Telejornal, a partir das 20.25. Ouvindo, como se impunha, cidadãos a favor e contra as touradas. Durante dois minutos - tempo razoável para o assunto em causa. A SIC antecipou-se ao canal público, pondo no ar uma peça de três minutos logo às 20.03 no seu Jornal da Noite, mas ouviu também as duas partes, o que é perfeitamente normal: esta é a regra número um do jornalismo.
Para meu espanto, nada disto foi seguido pela TVI, que entendeu dar destaque máximo no Jornal das 8 precisamente à notícia da tourada em Viana. Auscultando as duas partes? Nada disso: recolhendo apenas três depoimentos dos opositores do espectáculo. Nem um só aficionado mereceu ouvir a sua versão reproduzida em antena. Com a agravante de esta ter sido a notícia de abertura do principal bloco noticioso da estação de Queluz de Baixo, que lhe dedicou cerca de dois minutos.
Jornalismo sem contraditório não é jornalismo. Lamento muito, mas isto tem de ser repetido as vezes que foram necessárias. Seja a propósito de que assunto for.