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Delito de Opinião

Maria e as outras

Teresa Ribeiro, 15.08.13

Declaração de interesses: fui educada na corrente evangélica da religião cristã (que os católicos designam por protestante), mas como vivo num país católico é impossível não ter assimilado, ainda que com uma distância crítica, a sua cultura religiosa. Como tal, ao contrário do que muitos defendem, considero que os assuntos da igreja católica também me dizem respeito. De resto, se se orgulha da sua vocação universalista a ICAR só tem é que se abrir às críticas do mundo.

Vem esta introdução a propósito de um artigo que li no jornal sobre o sacerdócio das mulheres, um dos temas fracturantes do catolicismo. Não pretendo discorrer sobre o machismo da hierarquia católica, pois estou ciente de que não acrescentaria nada de novo à discussão. Permitam-me antes que exponha a perplexidade que este assunto desperta na minha alma protestante. Quando medito nele pergunto-me sempre como é que o culto mariano, que nós não praticamos e que a nossos olhos se revela como uma incompreensível subalternização de Jesus Cristo, pode conviver com esta teimosa exclusão das mulheres.  A resposta que vislumbro é perversa: esse culto, que enaltece a abnegação da virgem - a qualidade mais evidente na figura de Maria - serve para a Igreja estabelecer o seu guia comportamental para as mulheres: Sejam como ela. Perdoem as nossas ofensas e renunciem a tudo, que para pecar já cá estamos nós.

Malditas na sua génese, mães do pecado original, para se purificarem o melhor mesmo é as mulheres passarem directamente ao estado gasoso. Nessa qualidade terão até os machistas mais empedernidos a beijar-lhes os pés, dando ao mundo provas de humildade e do infinito respeito que lhes despertam as mulheres em abstracto e as santas no concreto.

13 comentários

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    Teresa Ribeiro 15.08.2013

    A igreja católica, por se ter organizado segundo uma hierarquia pôde consolidar o seu poder, o que lhe permitiu maior intervenção e visibilidade na sua acção evangélica, mas à sua escala os protestantes não se empenharam menos na expansão da fé (não os confunda com os judeus, pois os protestantes, ao contrário daqueles, são cristãos). Tinha que fazer este reparo em defesa dos "meus", da Maia .)
    Registei com muito interesse o que aqui nos trouxe sobre o papel dos eunucos nos primórdios da igreja cristã. Pode ter começado aí a deriva para o caminho, até agora por reverter, do celibato. Outro tabu. Neste caso nunca é demais lembrar que já houve papas casados. E que noutras correntes do cristianismo a vida familiar não atrapalha as funções dos líderes da Igreja, muito pelo contrário. Essa experiência ajuda-os a entender melhor os problemas das suas "ovelhas". Sei bem do que falo.
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    da Maia 16.08.2013

    Podemos e devemos ser críticos, mas em última análise o grande problema de uma estrutura com a dimensão da Igreja Católica, é manter-se funcional ao longo de milénios.
    As pequenas cedências parecem inofensivas, mas a linha mais ortodoxa argumentará sempre que foi a que resultou, antes de qualquer mudança.
    Quanto mais antigas são, mais as estruturas tendem a acumular uma inércia enorme.

    De qualquer forma, é diferente falar de quem gere o presente, e de quem deve pensar o futuro.
    Um pároco de aldeia pode não ter que ser teólogo, e aí trataria dos assuntos do "seu rebanho"... mas já é difícil ver isso a um nível mais teológico.

    A evangelização protestante ganhou alguma expressão a partir do Séc. XIX.
    Se virmos um bocadinho a história do Japão, vemos como os holandeses não se importavam de entregar missionários católicos a morte certa, instigando ódios em troca de ganhos comerciais.
    E não foram só os protestantes holandeses...

    Isto é opinativo, mas o protestantismo apareceu quando foi necessário um escape para o estabelecimento judaico, dada a perseguição católica, e tentativa de conversão forçada.
    Por isso, é difícil desligar o protestantismo dos judeus... ainda que Lutero tenha manifestos anti-judaicos, o movimento acabou por ser manipulável, mantendo o essencial do monoteísmo.

    O culto de Nossa Senhora, isso iria completamente contra a religião judaica, contra o monoteísmo básico, e aí recomeçaram os problemas. Esse culto é praticamente inexistente no protestantismo.

    Na prática, o catolicismo acabou por elevar a figura de Maria e Jesus a um ponto que lembraria a velha religião peninsular... o culto de Vénus e Cupido, ou da Maia e Hermes, na sua ligação aos textos Herméticos.
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    Teresa Ribeiro 16.08.2013

    Os protestantes não fazem culto a Maria, da Maia. Nem a Maria nem a qualquer santo. Porque seguem rigorosamente os dez mandamentos e um deles, que os católicos elidiram desdobrando um dos mandamentos em dois, lê-se: "Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na Terra e do que está debaixo da terra, nas águas. Não te prostarás diante dessas coisas e não as servirás, porque eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus zeloso..." - Êxodo 20. É assim que lê na Bíblia, mas experimente consultar um catecismo. Aparecem lá todos os mandamentos menos este. Por isso a esmagadora maioria dos católicos - que por norma não consultam a Bíblia e na maioria dos casos nem a têm em casa - desconhecem-no.
    Por estas e por outras é que a Igreja interditou o acesso à Bíblia e convém não esquecer que essa interdição esteve na origem da contestação que levou ao movimento da Reforma.
    Temo que essa colagem que faz dos protestantes aos judeus seja pura propaganda católica. Não é por acaso que observo que são muitos os católicos que estão convencidos que a nossa principal referência é o Velho Testamento, algo que é completamente falso. Nem tal faria qualquer sentido, pois uma corrente que se denomina cristã tem que se reconhecer sobretudo na mensagem do Novo Testamento, que é a mensagem de Cristo.
    O culto dos santos é claramente uma reminiscência do politeísmo.
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    da Maia 16.08.2013

    Considera-se que Cristo resumiu os mandamentos a dois: amar a Deus e ao próximo.
    Por isso, a questão dos dez mandamentos é tipicamente judaica.
    O São Moisés que existe não se refere ao profeta Moisés... os judeus usaram a designação profeta ao invés de santo, e não alteraram as figuras do Testamento dos Velhos.

    Quanto ao resto, fique descansada que não é propaganda, basta fazer alguma investigação histórica, para concluir que os judeus encontraram no espaço protestante um apoio, quando estavam ameaçados pelo lado católico. Foi uma necessidade e conveniência, que serviu vários propósitos.

    A questão de politeísmo versus monoteísmo é uma falsa questão.
    Tem a toda parte o devido politeísmo... uns são tocados por Deus, outros não, os anjos estão no céu, os diabos no inferno. Uns são profetas, outros são santos...

    De qualquer forma, filosoficamente, o monoteísmo só tem sentido com Espinosa, que identifica Deus ao Universo. Fora isso, teria que sempre entrar na questão da Trindade, o que é aceite pelos protestantes, mas escapou aos judeus.
    Assim, tem logo o Espírito Santo como sendo admitido como entidade pelos protestantes.
    Isso não diverge na unidade, da mesma forma que pode admitir que a santidade corresponde a manifestações do Espírito Santo, em diversos indivíduos. A contradição é só aparente...

    A questão da oração, dos símbolos, da arca, tudo isso, são alegorias e segredos. O catolicismo gosta de usar figuras modelo, beatificando, canonizando, etc... ao mesmo tempo procura manter o apelo do sobrenatural, com milagres, para uma ligação para além do explicável.

    O que interessa é a reflexão, e o seu reflexo nas acções. Como a maioria das pessoas não está disposta, nem preparada para isso, houve uma redução a ideias básicas... o que tem vantagens imediatas na condução do "rebanho", mas que tem problemas de consistência, sujeitando-se à crítica de uma comunidade mais intelectual.

    De qualquer forma, o problema é o conceito.
    A maioria das pessoas tende a ver Deus como uma manifestação sobrenatural, que tanto poderia ser do campo divino, como do campo extraterrestre, como do campo da realidade virtual, ou até reportada como alucinação individual ou colectiva...

    Por isso, cara Teresa, não há nada errado na velha religião, da Magna Mater e do Mensageiro, é muitíssimo mais sofisticada do que qualquer outra. Colocá-lo na forma de Maria e Jesus, foi uma forma altamente inteligente de identificação. Nada tem a ver com politeísmo, porque pode sempre englobar as duas entidades num Universo que se identifica a Deus, e tem assim uma manifestação da Trindade.
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    Anónimo 17.08.2013

    A alusão que faz, da Maia, ao resumo a dois mandamentos penso que falha no contexto. Presumo que refere o diálogo entre o escriba e Jesus. Quando refere esses dois mandamentos, que o escriba corrobora, Jesus afirma: "Não estás longe do reino". Na realidade o escriba não estava longe do reino, porque sabia em que consistia. Porém, para aí ser introduzido, necessitava de o concretizar. É na concretização que tudo se determina, e isto requer luta, combate, esforço, em resumo, superação. É aqui que entra a Mediação para o alcance do Conhecimento que permite tal concretização. O gnosticismo valoriza sobremaneira o Conhecimento como atitude, isto é, como acto e como percurso antropológico-metafísico.
    Diz-se que este Conhecimente é poiético, ou seja, activo e realizador. Mas este Conhecimento realiza um percurso que define para o próprio objecto que é antonomasticamente a íntima e última identidade do Eu. Define também que esta identidade última é idêntica com o divino. Por isto também se pode dizer que a metafísica é teodiceia. A saber, ao encontrar-se o último "ser" do Eu, por identificação, encontra-se Deus. Assim, o Conhecimento transforma-se em sacramento da unificação do humano com o divino. De alguma forma me atrevo a encontrar algum paralelismo na afirmação do evangelho de João (vide Jo 8, 31-32), mas esta possibilidade engloba a própria Mediação.
    Mas o gnosticismo também nos surpreende nas suas outras variáveis transcendentes. Por exemplo: o Lógion 17 (dito de Jesus) do Evangelho segundo Tomé refere-nos:
    "Dar-vos-ei o que os olhos não viram,
    e o que os ouvidos não ouviram,
    e o que as mãos não tocaram
    e o que nunca subiu ao coração do homem".
    Por isto mesmo não se pode confundir, na devoção católica, o percurso e o auxílio como um acto politeísta.
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    da Maia 17.08.2013

    Caro Anónimo,
    já precisei que se tratava do cap. 22 do Envangelho de S. Mateus.
    Quando diz:
    "... ao encontrar-se o último ser do Eu, por identificação, encontra-se Deus",
    estou completamente, ou genericamente, de acordo.

    Estou de acordo, porque cada Eu insere uma transcendência abstracta, digamos alma.
    Esta alma funda na linguagem, nas noções abstractas, que não têm correspondente no físico.
    Nessa parte comum, a humanidade comunha na transcendência, o que se pode chamar divino.

    Quando diz:
    "o Conhecimento transforma-se em sacramento da unificação do humano com o divino."
    ... eu acrescento que esse Conhecimento é "conhecimento do conhecimento", ou seja Compreensão.

    E, em abono da verdade, lendo os Evangelhos, nomeadamente o discurso contra os fariseus, parece-me que falta ali compreensão, certamente por via de uma interpretação episódica dos apóstolos, que focou num discurso casual e não no fundamental.

    Deixe-me complementar, dizendo que nessa introspecção do Eu, não basta o procurar-se a si próprio... o encontro com o transcendente dá-se quando, ao procurarmos o nosso mais íntimo, encontrarmos todos os outros. Ou seja, quando concluirmos que é o mesmo em todos os outros.

    A distinção é muito ténue... mas é a diferença entre o mal e o bem.
    A simples introspecção que faz do Eu um Deus, é uma visão egoísta de separação, que faria do Não-Eu, dos outros, simples servos.
    A introspecção mais profunda, deve concluir a reflexão cristã, ou seja, que o processo é possível a todos, e portanto estamos unidos nessa comunhão abstracta, em que não se distingue o Outro do Eu.
    Creio que, pelo menos a um nível de leitura literal, há uma grande confusão nos Evangelhos sobre essa diferença. Jesus é filho de Deus, mas sendo homem, e por identificação aos homens, isso seria válido para todos.
    A diferença não está no homem, está na mensagem que transmite.

    Na minha opinião, o Reino dos Céus, ou a batalha entre bem e mal, dá-se apenas nas ideias.
    Os homens são veículos de ideias, mas não devem ser possuídos por elas, nem possuí-las.
    Todas as ideias são possíveis, mas umas não devem ganhar o estatuto de realidade.
    As ideias ganham o estatuto de realidade por acordo entre os homens, um acordo que se dá no nível íntimo, no nível divino.
    Cada um tem os seus sonhos - uma realidade individual, porém o ACORDAR, o acordar reporta um acordo a esse nível, para uma realidade comum, que todos partilhamos. Se é um paraíso ou um inferno depende do nosso mais íntimo... em que a realidade é o sonho partilhado.
    Se o paraíso individual implicar um inferno para outros, ou uma menorização do outro, pois é natural que, por reflexão dessa comunhão, o Acordar tenha aspectos de inferno... estamos em luta connosco, pensando que estamos em luta com os outros!

    No entanto, isto não significa que esse paraíso se resuma a um conjunto de boas vontades.
    É preciso acreditar racionalmente que afastámos os medos. Tem que haver um nexo racional que passe de uma sociedade injusta para uma sociedade a caminho de um equilíbrio universal.
    Isso só se consegue com uma mudança da compreensão de todos os indivíduos... não é tão simples quanto dizer que uns são salvos e outros não.
    Os excluídos não iriam para nenhum inferno, seriam o nosso inferno.
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    Anónimo 17.08.2013

    Caro da Maia,

    A passagem do Evangelho de Mateus que refere tem correspondência também no Evangelho de Lucas (vide Lc. 10, 25-37). Ao observar a resposta de Jesus ao doutor da lei á pergunta "E quem é o meu próximo?" verificará que Jesus socorre-se de um episódio que introduz um Samaritano como figura da misericórdia. Aqui chegados, convém comprender agora a situação entre Judeus e Samaritanos, de uma forma breve:

    - Para os judeus os samaritanos eram um grupo herético e cismático de espúrios adoradores do Deus de Israel, e eram mais detestados que os próprios pagãos. A origem do cisma entre judeus e samaritanos tem alicerces na própria história de Israel. Os judeus que se estabeleceram em Jerusalém depois do édito de Ciro (538 a.C.) não consideravam esta comunidade de samaritanos, antigo centro de Israel, como verdadeiros Israelitas. Eles eram descendentes de uma população mista: israelitas que tinham sobreevivido às deportações assírias e populações de várias comunidades mesopotâmicas que tinham sido transferidas para Israel. Estas populações também tinham introduzido na terra de Israel o culto de vários deuses.
    Quando a comunidade judaica dirigida por Zorobabel e Josué começou a reconstrução do templo, a comunidade samaritana quis juntar-se a eles na construção, mas foram duramente repelidos, e hostilizaram o próprio projecto, de modo que teve que ser adiado.
    Em alguma data entre o tempo de Neemias e o começo do período macabaico, o cisma tornou-se vivo e completo, quando os samaritanos construíram um templo dedicado a Iahweh no monte Garizim (Josefo, com inexactidão em seus relatos, diz que isto ocorreu quando Alexandre visitou a Palestina). Nota: os samaritanos aceitam somente o pentateuco.
    Para entender ainda melhor em que pé se encontravam os ânimos recordo que Jesus foi insultado de Samaritano (vide Jo 8,48).

    Assim sendo, o episódio que Jesus refere define a Universalidade para a Concretização da Misericórdia, e para aplicação desta Misericórdia socorre-se de da figura do samaritano, que é ódio visceral na raíz de Israel, para demonstrar também que a Bondade reside no lado oposto. Por analogia, estabelece nesta recomendação que o seu interlocutar, que é fazedor de leis e também de ódios pela determinação do puro e do impuro, aja em sentido igual.

    Por isto mesmo, da Maia, a sua leitura é superficial e não contém a substância que lhe permite aflorar a profundidade do ensinamento de Jesus.

    Ao fazer a afirmação "Mas este Conhecimento realiza um percurso que define para o próprio objecto que é antonomasticamente a íntima e última identidade do Eu. Define também que esta identidade última é idêntica com o divino. Por isto também se pode dizer que a metafísica é teodiceia. A saber, ao encontrar-se o último "ser" do Eu, por identificação, encontra-se Deus." vinha também a meu pensamento a afirmação de Santo Agostinho (Agostinho de Hippone): "Deus mais íntimo no meu íntimo". Se no mais íntimo de meu íntimo está o próprio Deus, é-nos impossível tê-l´O sem que o Outro esteja.
    Volto a afirmar, isto requer Mediação. De tal forma é assim que cada um de nós pode ser o próprio Mediador na elevação do Ser, qualquer Ser, a esse Reino. É isto mesmo que procuro fazer ao partilhar os meus conhecimntos e estudos com o meu caro da Maia.

    Sim é necessário comprender o Bem e o Mal. A lei natural diz-nos que não há castigo nem recompensa, porque tudo é CONSEQUÊNCIA. Todavia, a Lei Espiritual demonstra que o que é natural pode ser anulado e, a partir deste vazio do nulo, na concepção natural (a renúncia de mim mesmo não significa perda mas ganho. Morro para o velho para que nasça o novo - "Necessário vos é nascer de Novo", afirma Jesus na conversa com Nicodemos), se pode estabelecer, qual cálculo binário, o U(M)NO. É a ligação do zero (0, que é despojamento) e do Um (1 que é o Todo) que determina a Unidade.
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    da Maia 17.08.2013

    Meu caro Anónimo,

    sabe perfeitamente que não vai a lado nenhum acusando-me de leitura superficial, porque só revelou uma camada de superioridade, que é sua, para tapar o factual com o interpretativo.
    Quando despir essa camada que o impede de ver, e parece deslumbrar-se consigo próprio numa visão de que vê mais que os outros, não partilha nenhuns conhecimentos nem estudos.
    Ao contrário, parece estar a tentar exibir os seus conhecimentos ou estudos, o que é um negócio completamente diferente. E não me venha agora dizer que o li superficialmente...
    Estou apenas a ser crítico, para o ajudar... e se não gosta de ler isto, leia-se a si próprio na conversa que tem com os outros.

    No sentido contrário, não vejo que me esteja a tentar ajudar, mesmo ignorando essa postura, que vejo como mera retórica, que se reduz a nada.
    Eu falo em alhos, você fala em... bugalhos.
    Falei do discurso sobre os fariseus, você vem com a história do samaritano... e então?
    Ninguém disse que esse discurso não está presente, estava a dizer que o outro também está.
    Não vale de nada tentar chutar para canto, por eu não vou nesse canto.

    Meu caro, não leve a mal, mas quando você ao citar Santo Agostinho conclui:
    "Se no mais íntimo de meu íntimo está o próprio Deus, é-nos impossível tê-l´O sem que o Outro esteja."
    ... isso seria a mesma coisa do que dizer que amar a Deus era o mesmo que amar o Outro.
    Ora, amar só a Deus, já o faziam os judeus... a novidade cristã é justamente a inclusão do Outro, na procura de Deus. E a explicitação foi necessária, não bastaria afirmar o óbvio depois.
    Depois da descoberta da simplicidade tudo é óbvio, obviamente.

    Não estamos em desacordo, você está a dizer o mesmo que eu disse, só que parece se esforçar demasiado por fazer parecer que não. Ou então não o vê, mas eu não quero acusá-lo de leitura superficial, porque creio que seria injusto.

    Sobre a lei natural e lei espiritual, não sei isso é conversa rosacruciana. A explicitação binária é feita com Leibniz, e num contexto que remete a uma definição confusa de mónadas.
    E, certamente por falha minha, nem sequer percebo qual é a relevância que tem para a conversa anterior. De qualquer forma, parece ignorar aí o paradoxo do pensador, ou seja, que não é um pensamento que determina o pensamento.

    Finalmente, não menospreze o seu interlocutor, porque, não sabendo quem é, deveria pelo menos saber que se manifesta em si próprio, quando perceber o que ele diz.
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    Anónimo 17.08.2013

    Caro da Maia,

    Revi todos os comentários do início, e não vou responder na mesma frequência com que me deu sua resposta porque na realidade houve um erro na minha leitura ao início do seu comentário de 16.08.2013 á Teresa: "Considera-se que Cristo resumiu os mandamentos a dois: amar a Deus e ao próximo. Por isso, a questão dos dez mandamentos é tipicamente judaica.";

    eu fiz uma errada leitura desta afirmação que agora transcrevi. E a partir deste erro eu tenho vindo a desenvolver todos os meus comentários. O erro por esta leitura desantenta consiste tão somente ter interpretado a questão tipicamente judaica associada a Jesus.
    Ao falar na leitura superficial eu não me referia a superficialidade.


    Mas foi bom lê-lo, e saber como interpreta seus interlocutores.
    Passa bem.
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    da Maia 18.08.2013

    Obrigado pela resposta.
    Reconheço, sem problemas, que posso ser impetuoso e inconveniente, mas prefiro a sinceridade a um falso polimento.
    Cumprimentos.
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    Anónimo 18.08.2013

    A resposta foi para si mas o esclarecimento foi público. Porque os outros, em particular a Teresa que nos acolhe, também são merecedores desta atenção, que foi sincera. E continuando na onda da sinceridade que tanto aprecia, permita acrescentar concluindo:

    Eu não sou um idólatra das palavritas, e não faço delas um carrossel onanístico; e do saber, do conhecer e do compreender não os transformo num acto arrogante, falso de sentimento, mas de partilha. E também não faço uso dessas descobertas para um confronto com os outros que permita iludir limitações e transformar-me perante mim, aos olhos de todos, num pequenino super-homem. E se o polimento permite retirar manchas sem magoar, ele deve ser acolhido; mas se magoar, a mágoa confirma.
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    da Maia 19.08.2013

    Meu caro, neste caso eu vejo o facto de ser público como um auxílio ao esclarecimento individual, porque envolve uma maior disponibilidade a críticas.

    É natural que entenda que eu sou aquilo que diz não ser, mas então esqueça a pessoa por detrás das palavras... porque essa só se manifesta numa concepção sua, que construiu a partir delas.
    Ora, cada um de nós fez as suas descobertas pessoais, e aquilo que fiz foi expor as minhas, e procuro a crítica. Não a crítica simples e trivial, mas a crítica que faça pensar e questione.
    Sabe que estou muitas vezes de acordo com as suas ideias, e já o manifestei (inclusive aqui), mas também posso fazê-lo no sentido oposto.
    Há um confronto de ideias, que marginalmente afecta pessoas.
    As pessoas são tanto mais afectadas, quanto mais se envolvem no discurso. Você é anónimo, e eu também, por via de pseudónimo, ou quase. Vê muito pouco de mim no discurso, excepto quando a retórica se mistura com ideias.
    De resto, procuro concentrar-me na substância, não viso pessoas, viso os discursos.
    Sou tão crítico face aos discursos dos outros quanto sou relativamente aos que escrevo... e até lhe poderia fazer o exercício de atacar o que escrevi antes, se o conseguisse e se tal servisse de alguma coisa.
    E, francamente, acho que você ainda não percebeu que as ideias existem, independentemente de quem as profere.
    Por isso é importante o confronto de ideias sem pessoas envolvidas, para que não seja necessário um confronto de pessoas. Umas vez confrontadas essas ideias com os prés e os prós, saberemos antever melhor os seus méritos e fragilidades.
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