Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Maria e as outras

Teresa Ribeiro, 15.08.13

Declaração de interesses: fui educada na corrente evangélica da religião cristã (que os católicos designam por protestante), mas como vivo num país católico é impossível não ter assimilado, ainda que com uma distância crítica, a sua cultura religiosa. Como tal, ao contrário do que muitos defendem, considero que os assuntos da igreja católica também me dizem respeito. De resto, se se orgulha da sua vocação universalista a ICAR só tem é que se abrir às críticas do mundo.

Vem esta introdução a propósito de um artigo que li no jornal sobre o sacerdócio das mulheres, um dos temas fracturantes do catolicismo. Não pretendo discorrer sobre o machismo da hierarquia católica, pois estou ciente de que não acrescentaria nada de novo à discussão. Permitam-me antes que exponha a perplexidade que este assunto desperta na minha alma protestante. Quando medito nele pergunto-me sempre como é que o culto mariano, que nós não praticamos e que a nossos olhos se revela como uma incompreensível subalternização de Jesus Cristo, pode conviver com esta teimosa exclusão das mulheres.  A resposta que vislumbro é perversa: esse culto, que enaltece a abnegação da virgem - a qualidade mais evidente na figura de Maria - serve para a Igreja estabelecer o seu guia comportamental para as mulheres: Sejam como ela. Perdoem as nossas ofensas e renunciem a tudo, que para pecar já cá estamos nós.

Malditas na sua génese, mães do pecado original, para se purificarem o melhor mesmo é as mulheres passarem directamente ao estado gasoso. Nessa qualidade terão até os machistas mais empedernidos a beijar-lhes os pés, dando ao mundo provas de humildade e do infinito respeito que lhes despertam as mulheres em abstracto e as santas no concreto.

4 comentários

  • Sem imagem de perfil

    Cristina Torrão 16.08.2013

    Entre os seguidores de Cristo, havia muitas mulheres, e teólogos mais modernos arriscam dizer que também haveria "apóstolas". A Bíblia não fala nelas, mas não foi Cristo que escreveu a Bíblia. E esses teólogos são de opinião que Cristo considerava algumas dessas mulheres ao nível dos apóstolos. Uma delas seria Maria Madalena, a primeira pessoa a quem foi revelado o milagre da Páscoa, coisa a que não é dado muito relevo, no catolicismo (não se venera Santa Maria Madalena por isso). O que é estranho, porque é precisamente nesse milagre (o da ressurreição) que se baseia o Cristianismo. Não foi um dos doze apóstolos a primeira testemunha desse milagre. Foi uma mulher! (Que talvez fosse "apóstola")
  • Sem imagem de perfil

    amendes 16.08.2013

    Como disse: - Não tenho capacidade nem instrução suficientes para entrar nesta discussão...

    Contudo I:

    Permita-me a ousadia de comparar a Bíblia à Constituição da República e os teólogos aos comentadores-políticos que nos assolam diariamente, com as mais dispares interpretações das Leis...
    Factos são factos... nenhum apostolo era ou foi" apostola".

    Contudo II:

    Acho que a Igreja Católica procede muito mal ao não conceder à Mulher o direito ao sacerdócio.

    Saudações

    Obs. Sou devoto da Rainha Santa Isabel, a Padroeira da minha terra... Coimbra.
  • Sem imagem de perfil

    Cristina Torrão 16.08.2013

    É verdade que a Bíblia se presta às mais variadas interpretações e nem todas são fiáveis. Mas esta de que estou a falar, que me foi transmitida através de um documentário da ZDF, pareceu-me plausível, se bem que, por vezes, um pouco exagerada. É conhecida a posição das mulheres, no tempo de Cristo, e é natural que não alcançassem grande importância. A questão é: Cristo contradisse, ou não, essa posição? Ele pensaria o mesmo que os seus contemporâneos sobre as mulheres? Há indícios, na Bíblia, de que talvez não. Eis uma questão ainda não esclarecida!

    A interpretação da Bíblia que conhecemos hoje é uma herança medieval, há acontecimentos que são realçados, outros abafados. E quase tudo o que envolve mulheres está envolto em mistério, a própria relação de Cristo com elas é um tema quase tabu, além de que há muitos mitos à volta de Maria Madalena.

    Enfim, uma questão de fé, caro amendes. E eu acredito que ainda há muito por descobrir. A versão que temos, hoje em dia, está longe de ser a defintiva.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.