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Delito de Opinião

Regresso ao passado (I)

Pedro Correia, 28.07.13

 

Se há coisa de que sempre gostei foi de consultar jornais antigos. Sou capaz de estar horas esquecidas numa biblioteca ou numa hemeroteca, aprendendo em cada notícia sobre o passado - e, através dele, conseguindo perceber também um pouco melhor o presente.

Sucedeu-me na tarde de quinta-feira, numa consulta à colecção do Jornal do Fundão, em cuja redacção fui muito bem recebido. Pretendia ler, fotocopiar e guardar notícias especificamente relacionadas com a minha família. Houve épocas em que os jornais - particularmente os jornais sedeados em cidades ou vilas da província - eram repositório de acontecimentos que constituíam marcos na vida privada de muitos dos seus assinantes e leitores, tornando-os notícia.

A partir de muitos desses textos é possível reconstituir hoje grande parte do quotidiano das décadas precedentes.

 

 

 

Recolhi várias notícias que de algum modo me diziam respeito. Incluindo a notícia do meu próprio nascimento, que não possuía em nenhum arquivo familiar. Seis linhas apenas, numa coluna do jornal que tinha imensa leitura, sob a epígrafe "notícias pessoais". Uma coluna que registava nascimentos e casamentos, naturalmente. Mas também internamentos hospitalares. Ou alterações de estatuto profissional ("Foi nomeado tesoureiro da Agência Geral de Depósitos em Oliveira de Azeméis o nosso amigo sr. X a quem cumprimentamos e desejamos os melhores êxitos"), ou simples visitas em gozo de licença ou de férias ("cumprimentámos o sr. Y, natural do Alcaide, oficial da Força Aérea em Lunda, que no continente se encontra em visita de alguns dias à família").

E há pormenores deliciosos, que nos remetem para um imaginário nada condizente com os nossos dias e nos falam de um Portugal que há muito deixou de existir.

 

Uma das rubricas fixas destas "notícias pessoais" era a dos pedidos de casamento. Lá vêm dois, registados para os devidos efeitos, na edição da semana em que nasci.

Não resisto a transcrever uma destas notícias (omitindo apelidos):

"Pela srª D. Otelinda... e sr. Aníbal..., solicitador e residente em Anadia, foi pedida em casamento para seu filho sr. dr. Serafim..., Delegado do Procurador da República em Lagos, a srª D. Maria..., gentil filha da srª D. Regina... e do sr. Francisco..., falecido."

Outros hábitos, outros costumes, outra imprensa, até outra linguagem. Outro País.

 

Imagem: avenida principal do Fundão, nos anos 50 (do blogue Postais do Fundão)

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