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Delito de Opinião

O que estou a ler (7)

Leonor Barros, 21.07.13

Não há nada tão determinante num livro como as primeiras linhas ou as primeiras páginas. Em tempo de esbulho e saque e com o inevitável ajustamento das minhas finanças o exercício que faço para me decidir se o livro é merecedor dos euros sobejantes é o de ler o primeiro parágrafo. Quando pedi o livro emprestado o aviso foi peremptório Essas primeiras cenas são horríveis. E eram. E são. Escritas com um enorme realismo e sem pudores bacocos oscilamos entre parar ali ou ultrapassar aqueles primeiros horrores para acompanhar Jorge. Resolvi acompanhá-lo. Até agora não me arrependi. Um bocado ensimesmado, é verdade, aquele tal episódio declarou-lhe uma existência reservada e sofrida, feita de silêncios grandes no casarão algures lá para os Algarves onde habita com as Manas, suas fiéis zeladoras e das lides domésticas e outras da mansão, Samuel, e D. Rosa. Quando um dia, Sarah, uma escritora excêntrica aventureira e a viver no limite, se muda lá para casa, tudo muda. E muda ainda mais quando surge em cena Biafra, ávido por uma chantagem. E quando mais personagens se juntam para adensar a trama. E mais não digo.

Depois da desilusão de Mazagran e da paixão imediata e irrevogável – boa palavra – por A Amante Holandesa, este Mentiras & Diamantes de José Rentes de Carvalho tem um ritmo alucinante, uma deambular incessante entre mundos, palavras sem rodeios, e personagens fortes que não conseguimos esquecer. Lê-se com prazer. Cavalgam-se páginas para saber mais. Nesta minha nova condição de comprar livros de seis em seis meses, um Rentes de Carvalho será merecedor dos parcos euros. Só posso recomendar.

 

 

E agora passo a leitura ao Luís Menezes Leitão. Que andará ele a ler? 

4 comentários

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    Leonor Barros 21.07.2013

    Vais gostar. Não gostei do Mazagran mas é uma colectânea de textos sobre vários assuntos. A Amante Holandesa li num dia, eu que sou uma leitora lenta.
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    Pedro Correia 21.07.2013

    Sinal inequívoco de que é bom. Eu confesso a minha ignorância: nunca li nada deste autor. Excepto alguns textos que publica no blogue.
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    Costa 21.07.2013

    Então, uma sugestão: antes ainda de ler o, sem dúvida excelente, A Amante Holandesa, leia Ernestina. Foi a minha primeira leitura de Rentes de Carvalho. É uma obra absolutamente poderosa e que para sempre redimiria o autor, ainda que depois dela tudo o que dele fosse lido desapontasse.

    E não é o caso. Ainda não li Mazagran , mas A Amante Holandesa, Tempo Contado (sim, coincide com o nome do blogue), Com os Holandeses, La Coca, O Rebate, foram livros em que dei por muitíssimo bem aplicado cada minuto de sua leitura. Por estes dias acompanham-me Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia, colectânea de breves contos.

    Rentes de Carvalho será um dos autores a continuar Os Maias, a convite do Expresso. Assusta-me isso. Obras de génio devem ficar onde o seu autor as entendeu deixar. Pretender continuá-las será um potencial desastre, uma aventura de aprendiz de feiticeiro.

    Não o tenho, a Rentes de Carvalho, na conta de um desses novos escritores famosos, tão cheios de si quanto vácuos. Que imponha ao Expresso o uso da ortografia portuguesa de boa lei, aquela anterior à aberração ortográfica que para aí grassa como peste.

    Costa
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