O que estou a ler (7)
Não há nada tão determinante num livro como as primeiras linhas ou as primeiras páginas. Em tempo de esbulho e saque e com o inevitável ajustamento das minhas finanças o exercício que faço para me decidir se o livro é merecedor dos euros sobejantes é o de ler o primeiro parágrafo. Quando pedi o livro emprestado o aviso foi peremptório Essas primeiras cenas são horríveis. E eram. E são. Escritas com um enorme realismo e sem pudores bacocos oscilamos entre parar ali ou ultrapassar aqueles primeiros horrores para acompanhar Jorge. Resolvi acompanhá-lo. Até agora não me arrependi. Um bocado ensimesmado, é verdade, aquele tal episódio declarou-lhe uma existência reservada e sofrida, feita de silêncios grandes no casarão algures lá para os Algarves onde habita com as Manas, suas fiéis zeladoras e das lides domésticas e outras da mansão, Samuel, e D. Rosa. Quando um dia, Sarah, uma escritora excêntrica aventureira e a viver no limite, se muda lá para casa, tudo muda. E muda ainda mais quando surge em cena Biafra, ávido por uma chantagem. E quando mais personagens se juntam para adensar a trama. E mais não digo.
Depois da desilusão de Mazagran e da paixão imediata e irrevogável – boa palavra – por A Amante Holandesa, este Mentiras & Diamantes de José Rentes de Carvalho tem um ritmo alucinante, uma deambular incessante entre mundos, palavras sem rodeios, e personagens fortes que não conseguimos esquecer. Lê-se com prazer. Cavalgam-se páginas para saber mais. Nesta minha nova condição de comprar livros de seis em seis meses, um Rentes de Carvalho será merecedor dos parcos euros. Só posso recomendar.
E agora passo a leitura ao Luís Menezes Leitão. Que andará ele a ler?