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Delito de Opinião

Tresleituras

José Navarro de Andrade, 18.07.13

 

A propósito do recém-anunciado encerramento da Livraria Sá da Costa uma venerável critica literária & jornalista cultural recorda o fecho da Livraria Portugal e a sua substituição por uma pastelaria, para imprecar com amargura: “nunca passo pela Rua do Carmo sem um abalo e nunca resisto a desejar que as pessoas que estão sentadas a comer brioches e queques coloridos no lugar onde antes havia um balcão de livros, pessoas que recomendavam leituras, memórias de tanta gente – minhas também – e de uma cidade, se engasguem com as migalhas.”

Em jovem cheguei a supor que os livros e o amor por eles nos tornariam pessoas melhores, mais cultas e cosmopolitas, mais tolerantes e generosas. Mas conforme fui lendo um pouco mais (curiosa contradição), também fui percebendo que as maiores maldades que a humanidade perpetrou foram inspiradas em livros, uns sagrados, outros idolatrados.

Confesso que me impressiona bastante que alguém deseje a infelicidade ou o mal dos outros como forma de compensar a dor que sente. Mas esta cultura do lamento, que tão candidamente a autora expõe, procede de uma ética altiva, em que faz prova de refinamento o sentimento de superioridade intelectual e o despeito pelos miseráveis ignaros que não partilham os meus inteligentíssimos gostos. Todavia, quem diz viver rodeado de bestas talvez devesse ponderar se foi ali parar por engano ou se não fará parte da manada.

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