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Delito de Opinião

Sócrates: a entrevista (1)

Pedro Correia, 06.01.09

1. Não há a confissão de um erro, sequer um simulacro de humildade: só o permanente auto-elogio. Em entrevista à SIC, esta noite, José Sócrates foi igual a ele próprio: encheu a boca de propaganda, usou e abusou do pronome "eu" e até pretendeu dar uma lição de Direito Constitucional. O que diz tudo sobre o seu estilo de governação.

2. Muito bem conduzida por Ricardo Costa e José Gomes Ferreira, a entrevista foi percorrida pelos habituais chavões socráticos, quase tão repetitivos como a velha cassete do PCP. Lá vieram as inevitáveis referências à "banda larga", à "protecção do emprego", ao "investimento nas rodovias". E as "medidas", as célebres "medidas" repetidas até à náusea. Como os "seiscentos quilómetros de auto-estrada", eventualmente destinados a esvaziar ainda mais o interior do País. E também a "reduzir as mortes" no asfalto, alegação que merece figurar em qualquer manual de demagogia. Vai longe o tempo em que o PS clamava contra a "política do betão" praticada por outros.

3. Do essencial, quase nada ficou respondido. É certo que "tudo aponta para um cenário de recessão", reconheceu o primeiro-ministro com o ar casual de quem anuncia que amanhã vai chover. Também  é verdade que em Setembro, quando elaborou o Orçamento de Estado para 2009, este governo tão perspicaz não fazia a mais pálida ideia da "profundidade da crise". E é inegável que desde 2005 o investimento estrangeiro em Portugal caiu, a dívida externa atinge hoje uns astronómicos 150 mil milhões de euros e a cada trimestre há mais 63 mil pessoas a acorrerem aos centros de emprego. Nada disto rouba por um instante a estudada convicção de Sócrates, que pedirá a maioria absoluta nas próximas legislativas: "A única certeza que tenho é a de merecer a vitória." Porreiro, pá.

 

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