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Delito de Opinião

O fetichista

Teresa Ribeiro, 30.06.13

Era já um vício. Todos os dias gastava umas horas a espiá-las, procurando adivinhar através do que escreviam os seus traços de personalidade e potencial intelectual. Depois entrava no jogo ainda mais arriscado de lhes atribuir formas e traços fisionómicos sugestionado pela construção frásica, agilidade narrativa, enfim pelas características formais dos textos que lia. Quando um trecho o enfeitiçava deixava-se sempre tomar pela convicção de que a autora só podia ser linda. Pernas longas e bem  torneadas como a sua escrita, o rosto iluminando-se como a mais bela das frases intercalares entre o corpo e a alma.

Os seus dotes de comunicador facilitavam-lhe a abordagem elegante, com perfeita noção dos timings. Era sempre épica a fase em que as seduzia numa valsa progressiva que o arrebatava também. Entregue às mais requintadas fantasias nunca apressava o desfecho, que sabia fatal. Invariavelmente em passos curtos eram elas que acabavam a descer do pedestal com impertinências, sugestões de encontros e por fim ultimatos.

Cheias de pressa de tocar o chão, as princesas eram então descartadas em esplanadas e miradouros, generosamente enquadradas pela sua estética exigente. Nem sempre cedia à tentação de as ir espreitar, não fosse deparar com figuras sem estilo, cheias de erros de métrica no peito e nas pernas.

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