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Delito de Opinião

a tal da greve

Patrícia Reis, 28.06.13

A questão é a de saber se fiz greve. Perguntaram-me várias vezes.

Dá-me vontade de sorrir e pouco mais.

Explico: há quase 17 anos que tenho uma empresa, nunca deixei de pagar subsídios de férias, os empregados têm sete semanas para gozar e, em caso de gravidez, seis meses em casa pagos pela empresa e depois, conforme a lei, têm mais seis meses para sair cedo e entrar mais tarde.

Não têm horário, portanto se ligarem para lá às nove da manhã, o mais certo é estar deserto.

Se ligarem às nove da noite, a conversa talvez seja outra.

Temos frigorífico e partilhamos refeições.

Mesmo os que estão a recibo verde têm direito a subsídio de férias e de natal. Nunca fugi ao fisco. Nunca deixei de pagar nada. Não tenho uma dívida, é certo que também não tenho uma fortuna sorridente à minha espera. Vivo sem qualquer tranquilidade, sem conseguir projectar o que estaremos a fazer. Às vezes, não sabemos o que vamos fazer no dia seguinte.

Bato às portas, vou a concursos, faço relações públicas (sou péssima!) e não posso dizer que faça de comercial por não ter jeito e nunca ter contratado ninguém dessa área. Posso dizer que os clientes que temos ficam connosco. Sabem que não falhamos, mesmo que as horas de sono sejam poucas. Sabem que os nossos orçamento são um quarto dos orçamentos de outros ateliers, de agências de comunicação, de publicidade, etc e tal.

Sabem que não chegamos atrasados e que, apesar do contrato com Nossa Senhora (ela não faz design, nós não fazemos milagres), temos tido sorte e levado a carta a Garcia.

Durante quase 13 anos tivemos a revista mais premiada da Europa, a Egoísta, mas a quantidade de coisas que já fizemos é brutal e é um orgulho imenso. Quero lá saber da lei se calha a ter de despedir alguém: dou o que posso, dou para lá da lei se for o caso e possível, dou computador e, até já aconteceu, voltar a contratar a mesma pessoa.

Portanto, não. Não fiz greve.

Porque não tenho um patrão, só o meu rosto do outro lado do espelho e conheço uma quantidade de gente que se queixa, que se queixa muito mas que não vejo trabalhar. Sim, há uma diferença enorme entre trabalhar e ter um emprego.

E não, não tenho fins-de-semana e 21 dias de férias, tenho o que posso, quando posso e muitas vezes sem subsídio.

Optei por ter uma empresa por causa dos horários flexíveis, para educar os meus filhos de outra forma.

Agora estão grandes, a crise é mais que muita e eu trabalho que nem uma louca. Há coisas que me dão imenso gozo, outras são uma grande seca. Fazer greve não posso. O que posso dizer é  estão à vontade para perguntar às três pessoas que trabalham comigo se, por mero acaso, querem ir para outro lado. Por favor, perguntem. Eu já sei a resposta. E não, não fizeram greve.

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