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Delito de Opinião

Lillo e Derrida à Selecção

João André, 06.06.13

Estou farto de política, da crise e algo cansado. Como tal, farei o que qualquer português que se preza faz nestas circunstâncias: vou falar (ou escrever, se quisermos ser precisos) sobre futebol. Mais especificamente, sobre a selecção nacional.

 

Ora, não vou recapitular os resultados porque isso não me interessa minimamente. Quem os quiser saber, bem como a posição da selecção, que vá aos jornais que é para isso que eles servem e bem agradecem qualquer comprador, nem que seja para ler a coluna da Maya. Não, a mim, mais que os resultados, interessam-me os processos, como diria Juanma Lillo (um filósofo de primeira água à espera de quem lhe dê uma cátedra). No caso, os processos da selecção nacional, dos seus jogadores e do talismã.

 

Ora, quando terminou o último Europeu, todos ficámos felizes. Portugal esteve a um par de penalties de eliminar a Espanha (a Itália na final seriam favas contadas), o Crisnaldo® deu espectáculo, o Moutinho mandou no meio campo, etc e tal. Não fosse o continuarmos a não ter um ponta de lança que seja e ninguém se chatearia.

 

O chato é que havia umas nuvens naquele horizonte. O onze inicial era de facto bom mas sem alternativas de nível semelhante. O tal ponta de lança continuou a não aparecer. O Nani decidiu que este ano era boa altura para fazer férias mentais em Marte. O Meireles finalmente comçou a ficar lento (peso a mais por causa das tatuagens). O Crisnaldo® ficou sem mais ninguém na equipa que o apoie e as equipas adversárias chegaram à conclusão que basta meterem 5 gajos nele para o problema estar resolvido. O resultado (Lillo suspira) é uma fase qualificação aos soluços e um bilhete para o Brasil tão garantido como as promoções da TAP.

 

Claro que isto não está para melhorar. Não culpo minimamente Paulo Bento, note-se. Já quando esteve no Sporting achei que era asneira terem-se visto livres de um treinador que lhes tinha dado um par de taças e de segundos lugares com jogadores júniores e refugo estrangeiro. Não é nenhum Mourinho, mas sabe o que faz e fá-lo bem. O chato é que na selecção tem que usar o que há, e o que há não é de grande qualidade. Sim, temos alguns jogadores de nível mundial (Pepe, Coentrão, Moutinho, Crisnaldo®, Nani) e um elenco de apoio de bom nível. O problema é que não há banco e não há uma geração para os substituir (aqui noto que espero que os problemas financeiros do Sporting continuem para que possam continuar a ter de recorrer àquela maravilhosa academia). Portugal pode ter sido segundo classificado no mundial de sub-20, mas foi assim à gregos2004 e os bons jogadores dessa equipa continuam à procura de oportunidades pelo Coruña, Varzim ou semelhantes.

 

Habituámo-nos a bons resultados à custa de uma geração de ouro (Couto, Figo, Rui Costa, João Pinto) e da sua sequência (Deco, Maniche, Carvalho, Miguel, Pauleta, Tiago) que não tendo tantos jogadores brilhantes, era mais consistente que a anterior. Neste momento vivemos um período de transição para vacas magras, muito à custa do desinvestimento de Benfica e FC Porto na formação. A sua preferência pela descoberta de pérolas (especialmente pela América do Sul) e a sua revenda com lucro (sistema que dá muito dinheiro aos empresários) acaba por ir fazendo a selecção sofrer.

 

Voltando aos resultados (não chores Lillo), creio que Portugal lá acabará por se qualificar pelos play-offs, mas é bem possível que seja a última por algum tempo. Não é culpa de Bento nem de Crisnaldo®. Mas pelo menos, se ignorarmos os resultados (louvado seja Lillo), poderemos apreciar a loucura anárquica e este processo semi-derridaniano de desconstrução da selecção. Não chega aos tempos pós-Saltillo com a grande Dupla Plácido-Coelho, mas não se pode ter tudo.

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