Fast feelings
Desembaraçou-se daquele braço que lhe travava os movimentos, saiu da cama de mansinho e passou-se para a sala, pé ante pé, com o smartphone na mão. Não sabia o que lhe tinha inspirado aquele sonho, mas a ocorrência estava a incendiá-lo de tal forma, que precisava de partilhar. "Ela vai gostar", pensou, enquanto teclava a verdade do momento: "Amo-te".
"Ao fim de meses de silêncio será o bastante para a incendiar também, mesmo que à revelia". Sorriu ao imaginá-la a esgrimir contra o desejo. Conhecia-lhe os hábitos: "A esta hora ainda não foi dormir de certeza". Remexeu-se no sofá, ansioso: "Deve estar a pensar o que há-de responder". Ah, como ele gostaria de voltar a sentir aquelas unhas nas costas. Estava tão absorto que se sobressaltou quando o telemóvel começou a vibrar. "É ela! As mulheres não resistem a este género de surpresas". A confirmação das suas expectativas fê-lo evoluir da excitação para a ternura: "Que saudades de ver aparecer aquele nome no ecrã!" Abriu a mensagem sem pressa, para saborear o momento. Em maiúsculas lia-se: V A I MORRER LONGE.
Levantou-se do sofá num ápice. "Estúpida!" E lembrou-se dos motivos que o levaram a deixá-la: "Tinha muito mau feitio".