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Delito de Opinião

Jacarandás

Ana Vidal, 29.05.13

 

Contrariando olimpicamente a ancestral aversão nacional à alegria, os presságios de pestes negras, misérias pardas e um sortido rico de desgraças a bater-nos à porta (para não falar das que já se instalaram, abusadoras, nos nossos descoloridos sofás, pagos a prestações em tempos de vacas anafadas), as estatísticas e previsões de arrepiar os cabelos a quem ainda os tem, a troika, a crise do euro, as escandaleiras para todos os gostos, a falência da segurança social, a lamúria das salas de espera dos centros de saúde, o galope do desemprego, o tédio da conversa de políticos e economistas, as trapaças dos chicos-espertos, a miséria dos programas televisivos, as íntimas misérias de condes de papelão e estrelas (de)cadentes, o fado choradinho de faca e alguidar, o copo-de-três mal medido, o cheirinho, o mata-bicho, a bica pingada, a fome envergonhada, a fome sem-vergonha de poder e lucro, o crédito mal parado, a justiça parada de vez, o imparável apertar do cinto... ah, eles aí estão, indiferentes a tudo, vestindo as ruas de um azul descarado e eufórico. Azul-alfazema, azul-Quénia, azul-violeta, azul-lavanda, azul-anil, azul-lilás. Eu chamo-lhe azul-Leonor, como me ensinou a minha avó. A minha cor favorita.

 

[Nota: texto republicado (desta vez nem foi preciso actualizá-lo, infelizmente)]

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