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Delito de Opinião

A última viagem do José Alberto

Pedro Correia, 26.05.13

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Julgo que foi o único colega de profissão com quem estive em cinco continentes. Desde logo em Lisboa, onde chegou a ser um dos profissionais mais qualificados da RTP. Os nossos caminhos profissionais cruzaram-se depois em Macau, onde dirigiu os canais de rádio e televisão da TDM. Mais tarde, reencontrei o José Alberto de Sousa em Nova Iorque, onde desempenhava as funções de conselheiro da missão permanente de Portugal junto das Nações Unidas e vivia do outro lado do estuário do Hudson, já em Nova Jérsia. Encontrámo-nos de novo em Cabo Verde, quando ele ali chefiava a delegação da RTP África, e em Díli, onde era assessor da administração da Rádio e Televisão de Timor-Leste.

Era um gentleman, capaz de estabelecer os consensos mais improváveis, sem nunca sentir a necessidade de levantar a voz. Um excelente pivot televisivo, aparentemente imperturbável mesmo nas situações de maior stress. Um homem com uma curiosidade insaciável, sempre disponível para conhecer diferentes lugares e diferentes culturas, e que mesmo quando exerceu cargos directivos nunca se fechava na redoma dos gabinetes.  Um bon vivant, que sabia aproveitar como poucos o lado solar da vida. Um boémio à moda antiga, capaz de cultivar a conversa à mesa como forma de arte. Um daqueles, cada vez mais raros, para quem a amizade era um posto. Por isso há hoje inúmeros amigos, nos mais diversos locais, a lamentar a sua morte - tão precoce e para mim, que nem o sabia doente, tão inesperada.

Despeço-me dele, como tenho a certeza de que gostaria, com esta morna na voz do Ildo Lobo que escutámos num dos nossos jantares na cidade da Praia. Quando havia muitos amanhãs no horizonte e a Morte era uma dama distante a que nenhum de nós sonhava passar cartão.

 

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