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Delito de Opinião

Hormonas

Ana Vidal, 25.05.13

 

A propósito deste teu post, Teresa, e porque não há regra sem excepção, está neste momento em cartaz um filme onde qualquer mulher encontra três horas de justificada e doce vingança. Não é um filme novo, muito pelo contrário. Refiro-me à versão integral e recuperada de um dos grandes clássicos do cinema: Lawrence da Arábia. É um mundo de homens (há apenas duas aparições de mulheres, mudas, fugazes e insignificantes). Mais, é um mundo de homens em guerra, que resulta fatalmente em doses maciças de testosterona servidas com requinte e para todos os gostos: da loira beleza imaculada de Peter O'Toole à viril e sedutora aspereza de Omar Sharif. É a história de um homem e da sua utopia, da sua fuga à realidade, da sua atormentada circunstância e da sua catarse muito pessoal, vivida em cenários das mil e uma noites. A irresistível magia do deserto acrescenta a tudo isto a porção necessária de mistério e fantasia, para já não falar na magnífica fotografia e na banda sonora, épica como convém. Em suma, é um feliz regresso aos sonhos mais ousados da nossa adolescência, um mergulho repentino nesse tempo e espaço em que éramos só hormonas.

 

 

E antes que alguém me caia em cima pela superficialidade deste comentário sacrílego a um filme que é "muito mais do que um romântico bando de homens com vestes esvoaçantes, atravessando desertos sobre camelos", concedo: sim, sim, eu sei, é também um documento histórico sobre uma época de convulsão e intriga política numa região ainda por desenhar, uma preciosa lição sobre a essência do mundo árabe, uma séria advertência aos perigos da ganância e do preconceito cultural, uma antecipação do fosso cavado irremediavelmente entre ocidente e oriente, blá, blá, blá, blá. Mas este post é uma piscadela de olho, não uma crítica ao filme.

 

Curiosamente, e ainda sobre o tema, o que há de mais perturbadoramente feminino no filme é o próprio Lawrence, e não me refiro só aos olhos azuis de Peter O'Toole.

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