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Delito de Opinião

A essência do fetiche

Teresa Ribeiro, 20.05.13
 
 

A ESSÊNCIA DO AMOR

 

É gira esta mulher. Gira não, linda. Sobretudo a boca. E os olhos. O nariz também é perfeito. Tem, de facto, um rosto muito bonito. Como se chama? Ah, sim, Olga. Olga qualquer coisa. Olga vai, Olga vem. De costas, deitada, em contraluz. Parece que é Kurylenko. A rir, de repente séria. Sim, chama-se Olga Kurylenko, é ucraniana e, agora me lembro, já foi uma bond girl.

O Ben Affleck quase não fala. Actores americanos raramente falam línguas estrangeiras, portanto enquanto a rapariga palra em francês, ele grunhe. Nada que atrapalhe os propósitos do realizador, que prefere ouvir a voz dela, prefere tudo dela. A correr, à chuva, ao vento, a fazer amor. Sempre ela. Meia hora tem piada. Diz que é um filme sobre o amor. Só se for do amor de Malick por ela.

Ando há anos a levar com doses maciças de fetichismo masculino. Calculo que à razão de mil pares de mamas por cada rabinho viril. Ainda há quem diga que o sexo não interfere com a produção artística.

As câmaras continuam a ser maioritariamente os olhos dos homens. Mas o Malick neste filme exagera. Leva à cena outra actriz, para que a triangulação se cumpra. É uma situação tão banal no cinema que tratá-la reduzindo a narrativa a elipses contínuas sobre paisagem metafórica parece pretensioso e preguiçoso, no entanto é o que ele faz. A outra actriz (Rachel McAdams) é uma fêmea estereotipada. Loira, mais peituda, beleza vulgar, o contraponto da menina ucraniana que o encantou. Pelo meio, vacilante e mudo o canastrão do Ben Affleck parece perfeito para fazer o papel de menino nas mãos das bruxas. Frágil, frágil perante tanta beleza. Tadinho. 

A par deste enredo amoroso aparece também o caso de um padre (Javier Bardem) em crise vocacional a dar uma dimensão mais universal ao tema da complexidade do amor. Nada que convença. Porque no fim a Olga volta. De frente, de costas, de lado. Assim e ao contrário, em todas as estações. Se To the Wonder (em português, A Essência do Amor) era um filme para auto-satisfação, que petulância Terrence Malick, só porque é considerado um realizador de culto, tê-lo distribuído comercialmente.  

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