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Delito de Opinião

Haverá alguém que diz "Não"?

Teresa Ribeiro, 20.05.09

A situação é-me familiar. Peço uma informação e ainda que tenha a sorte de falar à primeira tentativa com a pessoa indicada, acabo invariavelmente em espera. Alegando que de momento não me podem atender, convidam-me a telefonar noutro dia. Seguem-se tempos de incerteza. Será que volto a conseguir falar? Se não sou bem sucedida às primeiras insistências, pergunto-me: Será essa pessoa difícil de apanhar, ou não quer simplesmente falar comigo?

A minha intuição depois tem de fazer o resto, ou seja, decidir até quando vale a pena manter a expectativa. Entretanto já terei posto em marcha um plano B. Tem de haver sempre um plano B.

Há várias razões para este comportamento das fontes: receio de ultrapassar competências, rotinas burocráticas que obrigam, por exemplo, a pedidos de autorização para falar e necessidade de apuramento de dados antes de prestar declarações. Estas resolvem-se. O pior são as que reflectem o luso pânico de assumir responsabilidades, incluindo a responsabilidade de dizer "não".

Não sei a partir de quando o hábito se generalizou, mas aos poucos, a arte de fugir a uma nega passou do redondo mundo das relações públicas para o universo do trabalho puro e duro. Foi assim que se criou o conceito de "reunião". Uma amável escapatória que permite aos decisores evitar confrontações.

Ao possibilitarem o acesso directo às fontes, os telemóveis introduziram pequenas variantes neste nosso peculiar mundo laboral. A falta de rede é apenas uma das várias desculpas que substituem palavras tão definitvas como um maravilhoso e rotundo "NÃo".

"Não estou interessado", "Não é possível", "Não autorizo" - coisa incómoda, despachar assim um assunto, evitar deste modo abrupto constelações de gente a gravitar à volta, suspensas de humores e promessas ambíguas. Suspensas, suspensas, suspensas, deslizando de dia para dia na mais fofa das dúvidas.

Num mundo onde se fala cada vez mais de rapidez e proactividade é notável como estes nossos hábitos resistem. Em tempos, uma executiva que dividia a sua carreira entre Portugal e os EUA confidenciou-me: o nosso stress é muito pior que o de lá. Nos EUA chegamos ao fim de um dia de trabalho estoirados porque fizemos muitas coisas. Aqui ficamos rebentados porque apesar do esforço não conseguimos resolver nada.

O stress é, pois, como o colesterol. Há do bom e do mau. O nosso esgota-nos a paciência, ainda por cima sem reflexos positivos nos índices de produtividade. Para quando decisores sem papas na língua e outras gorduras?

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