Teletrauma
Há coisas que não percebo. Em vez de proibirem as suas criancinhas de levar telemóveis para um exame - por iniciativa própria e sem que sejam precisas recomendações exteriores, como seria lógico e natural - os pais dos alunos que fizeram hoje o exame do 4º ano vêm para a televisão insurgir-se contra o terrivelmente traumatizante pedido de assinatura de um papel que garante que os meninos não estão a conversar com os amigos em vez de estarem concentrados no exame. Insurgir-se, no fundo, contra a introdução das primeiras e utilíssimas noções de responsabilidade, ética e compromisso nas mentes dos filhos.
Esta nova forma de educar (ou de não educar, mais precisamente) com base no pressuposto de que tudo traumatiza as crianças, deixa-me seriamente preocupada. Primeiro, porque cria gerações sucessivas de florzinhas de estufa que não podem ser contrariadas nem suportam qualquer espécie de autoridade, o que as deixa totalmente impreparadas para o que vão enfrentar na vida real. Depois, porque torna quase insuportável o trabalho dos professores, desautorizados por um muro acusatório constituído por alunos mal educados e pais incapazes de autoridade que os apoiam incondicionalmente, tenham ou não razão. Finalmente, porque não vejo este excesso de protecção aplicado depois a outras frentes, como por exemplo à enorme exposição a que essas mesmas crianças estão sujeitas com a net, a televisão, a "noite" precoce, etc. Seria bom que estes pais pensassem um pouco mais em tudo isto, em vez de saltarem escandalizados, com acusações que não têm pés nem cabeça, para o microfone que a voraz media lhes estende à porta da escola.